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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O dia que a cidade cresceu em mim: maravilhas de exercer o direito a ela

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

19/05/2023 04h00

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Quando eu era criança, em 1994, lá pelos 10 anos de idade, lembro de meu pai me colocando no ônibus e dizendo: "Pede para descer no Circo Escola" —um ponto muito conhecido aqui na zona sul da cidade de São Paulo.

Minha primeira vez pegando busão sozinha, que aventura! Parecia que eu estava indo para o centro da cidade.

Nunca tinha ido tão longe em São Paulo. Para mim, antes dessa viagem, a cidade só ia até o Mandiocal —bairro onde eu morava. No máximo até o ponto final do ônibus, no bairro vizinho, onde ficava a escola em que eu estudava. Mal sabia eu da grandeza desse lugar.

O ônibus partiu, minha aventura começou.

Sentada no banco mais alto, estava eu, uma menininha magrela, de óculos, morta de medo.

O ônibus pegava velocidade e meus olhos se arregalavam, cada pedacinho da avenida era um pedação da cidade que se expandia para mim.

E como cresceu essa danada naquele dia!

"Que mundão! Que lugar!"

Eu olhava as pessoas, as ruas cheias, a feira, o mercado e pensava que aquilo tudo existia e eu nem sabia.

"Onde será que acaba a cidade? Será que acaba a cidade?"

O tempo passou, eu cresci e a pressa do dia a dia me fez esquecer essa história e da sensação desse dia.

Foi então que aconteceu de novo: a cidade cresceu para mim.

Fui convidada para trabalhar numa região que nunca havia ido.

Endereço na mão, lá fui eu.

Uma hora e meia depois, lá estava: Capão Redondo.

A cidade cresceu um pouco mais!

Passei seis meses fazendo o mesmo trajeto: do Grajaú para o Capão Redondo, do Capão Redondo para o Grajaú.

Foi lindo e a cada dia a cidade crescia mais um cadim.

Eu já subi uma avenida chamada "Morro do S", vi um cachorro de gravata e bermuda, fiz amizade com o tio da pamonha fresquinha, li no trem, dormi no trem, chorei no trem, peguei o ônibus lotado, desci no ponto errado, conheci meninos e meninas tão geniais que as palavras não dão conta explicar.

E um dia, voltando para casa, sentada na janela do último banco, no último vagão do metrô, que mais uma vez meus olhos de 20 anos atrás se arregalaram. Eu me maravilhei e a cidade se mostrou: linda e gigante!

E foi assim que cidade cresceu...

Cresceu para mim.

Cresceu em mim.