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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Adolescência e a pressão de pessoas adultas com relação ao namoro

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

16/06/2023 04h00

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Muita gente sabe que o dia 12 de junho é uma data comercial criada por um empresário para aquecer o mercado e nos fazer consumir, mas o que talvez nem todo mundo saiba é o quanto esse dia é usado por pessoas adultas para gerar situações de desconforto, exposição da sexualidade e ameaças de violência na vida de adolescentes.

Antes de entrar no tema que quero discorrer com vocês nesta semana, preciso informar que estou ciente de que muita gente adora expressar afetos pela pessoa amada (comprando coisas ou não) nesse dia, por isso minha reflexão não está relacionada diretamente à demonstração de carinho no Dia dos Namorados.

Neste texto eu não direi que você não pode amar e expressar amor por quem quer que seja e no formato que deseja. O que trago é a proposta de diálogo sobre a pressão que nós, pessoas adultas, por vezes colocamos na vida de adolescentes quando o assunto é namoro, e como essa atitude se intensifica no dia 12 de junho, ano a ano.

Vamos iniciar nossa reflexão recordando que, embora saibamos que criança não namora, muitas pessoas adultas tecem comentários erotizantes sobre a amizade e afetos na infância. Ao se aproximar da adolescência, pessoas adultas, sobretudo aquelas que são responsáveis legais, iniciam um processo que oscila entre a pressão para a superexposição das afetividades de adolescentes e o terror diante de possíveis afetos sentidos e vivenciados nessa fase da vida.

Estou chamando de superexposição das afetividades de adolescentes aquela atitude de perguntar "E as namoradinhas?" ou "E aí, Fulana, já está namorando?". Essas perguntas, embora acreditemos que sejam inofensivas, podem gerar em adolescentes o constrangimento de ter que falar com pessoas adultas sobre um tema que talvez não desejem conversar naquele momento e com aquelas pessoas.

Além disso, a adolescência é uma fase de muitas transformações e pressão social, dessa forma é possível que sua pergunta seja disparadora de sofrimento, uma vez que nem toda pessoa adolescente se sente desejada e escolhida por seus pares para um namoro.

Em atendimentos de apoio psicológico, adolescentes me contam com fúria: "É um saco ter que responder se eu tô namorando, quando na verdade não sinto que alguém se atraia por mim".

Outro ponto é o terror diante de possíveis afetos. Volta e meia, pessoas adultas tentam ameaçar adolescentes dizendo: "Se eu souber que você está namorando, eu arranco seu couro" ou "Seu namorado é meu cinto". Novamente digo que, na perspectiva de algumas pessoas adultas, essas frases podem parecer inofensivas, mas para adolescentes são ameaçadoras —e de fato, são ameaças!

Nesses casos, a ameaça de agressão está relacionada ao namoro, tema que adolescentes podem não querer conversar com as pessoas adultas.

"Mas então o que eu posso fazer para conversar sobre namoro com adolescentes?"

Você pode começar escolhendo o momento e espaço adequados para ter esse diálogo. Em casa, sem a presença de visitas, por exemplo.

Você também pode refletir sobre os motivos que o levam a querer conversar sobre o tema de namoro. Namorar é algo desejado por algumas pessoas na adolescência, mas também tem adolescentes que não desejam isso para suas vidas.

A grande questão aqui é escolhermos conversar pela via antiproibicionista, ou seja, não vamos pressionar para que namorem, muito menos diremos que está proibido namorar, mas que o namoro é uma forma de relação possível e que requer cuidados como respeito a si e a(s) outra(s) pessoa(s), que namoros precisam ser saudáveis, e não obrigatórios.

Pressionar para que adolescentes namorem não é um caminho saudável, mas proibir também não é. O ideal é conversar e tentar compreender de que forma podemos contribuir para que as vivências afetivas nessa fase da vida sejam prazerosas, respeitosas e bonitas de se lembrar.