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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pai, talvez você esteja ensinando à sua filha um padrão violento de amor

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

28/07/2023 04h00

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Esse texto é para todas as pessoas, mas principalmente para homens que são pais de meninas que ainda são crianças.

Pai, talvez você nem se dê conta e talvez nem seja intencional, mas é possível que você esteja ensinando à sua filha um padrão violento do que é expressão de amor.

E não, eu não estou falando da relação que sua filha vê você tendo com mulheres adultas. Também não estou falando dos momentos em que sua filha presencia você interagindo com a mãe dela ou com a madrasta. Eu estou falando do padrão de amor que você exerce diretamente na convivência com ela, com sua filha.

Pai, você grita com sua filha?

Você engrossa a voz, fica de pé diante dela, a ponto de ser necessário que sua filha precise curvar o pescoço para cima na tentativa de te olhar nos olhos?

Você diz à sua filha que está gritando porque ela te tirou do sério?

Você bate nela e diz que a menina está apanhando porque fez algo errado?

Você ameaça agredi-la quando ela não cumpre algum combinado estabelecido por você?

Pai, depois dos gritos, tapas ou ameaças, você a procura arrependido, dizendo que a ama e que sua atitude violenta dói mais em você do que nela?

Pai, você diz à sua filha que, de alguma maneira, foi ela quem provocou o grito, tapa ou as ameaças que você proferiu?

Você a repreende quando ela quer usar roupas mais largas e confortáveis?

Pai, você diz que ela está comendo demais e vai ficar gorda?

Quando sua filha conta de um amiguinho da escola, você diz que o menininho está com gracinha para cima dela e que você não quer "gavião" em cima da sua princesinha?

Você compara a estética de sua filha com a de outras meninas da idade dela, dizendo que as outras meninas se vestem ou se comportam melhor que ela?

Se você fez ou faz uma ou mais dessas coisas, é possível que você esteja ensinando à sua filha que amor e agressão são sinônimos, e que quem ama agride. É possível que você não faça isso por mal, talvez você faça isso por não entender a gravidade de seu comportamento na construção da autoestima de sua filha.

Para muitas mulheres, é difícil sair de um relacionamento abusivo na idade adulta, porque eles remontam dinâmicas que aprenderam na relação com os pais ainda na infância.

As frases que adultos dizem a crianças e que homens adultos dizem a mulheres após agressões são tão semelhantes que ficamos em dúvida sobre o cenário em que foram ditas:

"Eu te bati porque você não sabe obedecer."

"Quem vê chorando pensa que é santinha."

"Mas você viu como me fez perder a cabeça?"

"Você sabe que eu fico bravo quando chego do trabalho e escuto gritaria."

"E nem adianta ir chorar no colo da sua mãe."

"Se continuar falando, vai apanhar de novo."

"Quer ver eu ir aí? Vai calar a boca rapidinho."

Pai, por amor à sua filha, se você faz isso, pare agora de tratá-la como culpada pelas agressões que você proferiu até o momento. Pare de agredi-la. Recomece com uma postura de acolhimento e valorização, ainda dá tempo.

Peça desculpas pelos momentos em que você não soube lidar com o processo de desenvolvimento dela. Não a culpe por dificuldades que são suas. O adulto da relação é você!

Ensine sua filha a identificar um modelo de relação saudável, praticando uma forma saudável de se relacionar com ela. Seja acolhida e diálogo, não seja gritos e tapas.

Não é fácil, mas é necessário e urgente mudar.