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Elânia Francisca

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Relações sexuais ou relatos de abuso na adolescência? Homens e sexualidade

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

11/08/2023 04h00

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Aviso importante: os relatos a seguir foram coletados a partir de uma postagem em rede social no mês de junho de 2023. Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos informantes. O texto contém reflexões sobre violência sexual e pode ser conteúdo sensível para algumas pessoas.

Pedro, 40, recorda ter vivenciado sua primeira relação sexual aos 12 anos. Conta que em seu bairro havia uma mulher que ensinava "coisas adultas" aos meninos.

José, 25, conta que sua primeira relação sexual aconteceu quando um amigo de seu pai foi dormir em sua casa. No meio da noite, o homem acariciou sua perna enquanto ele dormia no sofá. José tinha 15 e o homem, cerca de 45.

Leandro, 48, relata que quando tinha cerca de 16 anos, seu pai o levou para uma festa e lhe apresentou uma mulher adulta, mãe de uma menina de sua idade. Durante o suposto ato sexual, Leandro se sentiu constrangido com alguns pedidos sexuais da mulher e relatou isso ao pai, que gargalhou e disse para ele "deixar de frescura e virar homem".

Não são raros os momentos em que, no trabalho de psicóloga e educadora em sexualidade, deparo-me com relatos de homens ou meninos adolescentes sobre suas primeiras experiências sexuais, que na verdade se assemelham mais a uma vivência de abuso sexual.

São memórias de homens que contam ter iniciado suas vivências sexuais com mulheres ou adultos muito mais velhos que eles na época, tendo a mediação desse "encontro sexual" sendo feito pelo pai. A ida a espaços de prostituição ou contratação de profissionais do sexo para adolescentes e outras práticas envolvendo inclusive a indução de estupro de animais aparecem em relatos de homens adultos como uma recordação cômica.

Estar diante desses relatos é presenciar uma das ações mais poderosas e prejudiciais do machismo na vida de homens. O machismo faz com que homens adultos sequer percebam que, para se tornarem "homens de verdade" na concepção de outros adultos, foram submetidos a experiências sexuais que, em alguma medida, prejudicaram suas vivências afetivas.

Ver homens adultos relatando cenas de violência sexual como se fossem experiências positivas e sem ter a menor ciência do que aquele ato se tratava, só nos mostra o quanto é importante dialogarmos sobre sexualidade com a população adolescente e seus responsáveis.

É urgente que os meninos compreendam que proteção no ato sexual não se resume ao uso de preservativo, mas também está presente no ato de recusar transar quando se sentirem pressionados e conseguir identificar as violências das quais seus corpos estão sendo expostos.