Elânia Francisca

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Opinião

Etarismo no trabalho em sexualidade: educador bom é educador jovem?

Existe um mito no trabalho socioeducativo que precisa ser derrubado com urgência, que é a ideia de que é preciso ser jovem para exercer um bom papel no processo de educação em sexualidade com adolescentes.

É claro que precisamos admitir que adolescentes, no primeiro contato, podem ter mais afinidade com pessoas adultas mais jovens, sobretudo quando essa juventude acabou de sair da adolescência. Contudo, somente a idade não é fator para determinar se o vínculo entre educadores e educandos será saudável ou se fortalecerá.

Ser uma educadora jovem pode abrir espaço para diálogos em que adolescentes se sintam mais à vontade para trazer algumas questões, principalmente sobre sexualidade. Mas isso não quer dizer que pessoas adultas mais velhas ou idosas não possam exercer a função de educação em sexualidade de forma respeitosa e exitosa com adolescentes.

Recordo de minha própria experiência na adolescência, em meados dos anos 1990. Havia um programa de televisão chamado "Programa Livre", apresentado por Serginho Groisman, no SBT, em que as juventudes podiam fazer perguntas para uma sexóloga chamada Rosely Sayão de forma muito tranquila e sem medo. O programa era exibido por volta das 16 horas durante a semana.

Rosely não era uma jovem, mas mesmo assim inspirava adolescentes da época, nos deixando tranquilos e confortáveis para dialogar sobre sexo e sexualidade.

Não são raras as experiências exitosas de trabalho sobre sexualidade em que adolescentes se vinculam a educadoras mais velhas (acima de 30 anos) e veem nelas a possibilidade de diálogo e desabafo sobre namoro, apaixonamento, prevenção e outros elementos da sexualidade.

Julgar a capacidade de vínculo saudável tendo como base a idade da educadora é uma expressão do etarismo (preconceito baseado na ideia de que quanto mais velha a pessoa é, menos ela tem a contribuir ou menos interessante ela é).

Ser etarista é alimentar a ideia de que adolescentes e pessoas idosas, por exemplo, não teriam nada que as vinculasse ou gerasse possibilidade de aprendizado mútuo.

Jovens, pessoas adultas e idosas se tornam ótimas educadoras em sexualidade quando baseiam seu trabalho no respeito às adolescências, nas informações de base científica e na ética profissional. A idade é só um elemento a se considerar, mas não é o todo.

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Lembre-se sempre: na relação de educação em sexualidade —e em qualquer outra relação—, adolescente gosta é de respeito.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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