Minha filha adolescente tem desejos sexuais. E agora?
Foi durante a semana, Laura, 40, não recorda qual era o dia exatamente. O que ela sabe é que no dia seguinte, Maria, 13, teria aula bem cedo. De seu quarto, a mãe escuta alguns sons vindo do quarto da menina. Laura se levanta furiosa —já havia dito à adolescente que depois das 22h o uso do celular estava proibido.
A mãe caminha pelo corredor em direção ao quarto da filha e, durante o trajeto, se dá conta de que já havia escutado (e até emitido) sons semelhantes àquele. Laura desacelera o passo e a fúria que sentia dá lugar ao constrangimento.
— Não pode ser! Ela é só uma menina. É muito nova para isso. Devo entrar no quarto? Surpreender a filha e dizer que aquilo está errado? Aquilo está errado? Maria tem apenas 13 anos, é muito nova para esse tipo de coisa.
Laura, parada no corretor, estática e perdida, tenta buscar em sua memória a lembrança de quando tinha a idade da filha.
— Eu fazia essas coisas? É claro que não! Eu sequer sabia o que era isso.
Ela recorda que seu irmão, o Marcelo, fazia essas coisas com menos idade que ela.
— Mas ele é homem. Meninos iniciam essas atividades mais cedo, não é? Meninos podem!
— E por que meninos podem?
Laura agora refletia, sentada no chão do corretor com as costas amparadas pela parede.
Talvez "meninos possam" porque meninos são erotizados por pessoas adultas mais cedo. Meninos podem até desejar fazer aquilo, mas os adultos acabam sempre pressupondo que os meninos, quando demoram no banheiro ou se fecham nos quartos, estão se tocando em busca de satisfação sexual.
Laura já havia presenciado homens adultos de sua família perguntando aos seus sobrinhos se eles já faziam aquilo. Esses mesmos homens riam quando seu sobrinho Pedro, 12, demorava no banho ou se trancava no quarto e saia de lá com o rosto ruborizado.
Agora deitada em posição fetal no corredor, Laura pensa que talvez tenha reprimido seus desejos de fazer aquilo porque desde criança recebeu ordens de que aquela região não poderia ser tocada por ela, pois era feio e nojento.
Laura pensa que a primeira vez que fez aquilo foi na idade adulta, mas antes disso, na adolescência, ela sentia desejos sexuais.
— Desejos sexuais?
Laura se deita de barriga para cima. Prende a respiração.
A ficha caiu!
— Minha filha adolescente tem desejos... Desejos sexuais!
Continua na próxima semana.
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
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