Elânia Francisca

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Opinião

Desejos sexuais, masturbação e adolescência: como falar disso em casa?

No texto da semana passada conhecemos a história de Laura, uma mulher de 40 anos de idade, mãe de Maria, uma adolescente de 13.

Na história fictícia —porém baseada em relatos reais de diferentes pessoas adultas—, a mãe percebeu um som estranho vindo do quarto de sua filha durante a madrugada e, conforme se aproximava do quarto, constatava que já havia escutado aquilo. Laura estava diante de uma descoberta difícil: sua filha tinha desejos sexuais.

Laura estava parada em frente ao quarto de Maria com diversas dúvidas:

—Devo entrar no quarto e confrontá-la?

—Talvez devesse aguardar até o dia seguinte?

—E o que digo a Maria? Que ela não deve fazer aquilo em casa? Digo que é saudável? Digo que não é?

Muitas pessoas na adolescência atravessam essa fase da vida sem dialogar com suas famílias ou pessoas cuidadoras sobre sexualidade e prazer, sobretudo quando o assunto é masturbação, mais ainda se a masturbação é feminina.

Há um enorme tabu em nossa sociedade no que diz respeito à sexualidade infantojuvenil. Isso faz com que seja difícil —quase impossível— conversar com adolescentes em casa sobre o tema.

Não falar sobre sexualidade e prazer faz com que adolescentes busquem informações em sites não confiáveis ou com seus pares, que, em geral, também estão vivendo a dificuldade de não dialogar sobre isso em casa. Alguns adolescentes podem obter informações equivocadas sobre sexualidade, por acessar conteúdos de base moralista, de senso comum ou com fontes não científicas.

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O ideal é que adolescentes possam ter abertura com pessoas adultas confiáveis, não só em casa, mas também na escola, espaços socioeducativos e serviços de saúde.

No caso de Laura, mãe de uma menina no início da adolescência, é importante que, primeiramente, ela aceite que sua filha está crescendo e junto com esse crescimento é possível que o desejo sexual apareça.

Existem adolescentes que não querem nem gostam de se masturbar (e está tudo bem!).

Contudo, também existem pessoas nessa fase da vida que querem e gostam de obter prazer sexual tocando o próprio corpo. Aceitar que você é responsável por uma pessoa que está crescendo e desejando coisas, é uma parte difícil do processo de acolhimento de adolescentes, por isso é fundamental que nos acolhamos nesse momento e nos dediquemos nas reflexões sobre o que o crescimento de nossas crianças gera de sentimentos em nós.

"Eu me sinto confusa, não entendo essa nova personalidade de minha filha. Eu tenho medo de não voltarmos a nos conectar como antes. Eu sinto saudades de quando ele era um bebê e dependia de meus cuidados."

Acolher-se, primeiramente, e organizar esses sentimentos é um processo fundamental para pessoas adultas.

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Em seguida, é importante recordar dos espaços que você tinha para ter informações sobre sexualidade e prazer quando era adolescente. A partir daí, você poderá questionar se o seu aprendizado foi baseado em senso comum, moralismo, terror ou numa perspectiva libertária e de autonomia.

Masturbação é algo saudável, mas requer cuidados, por isso precisamos pensar que essas informações precisam ser acessadas por adolescentes também.

Há adolescentes se se machucam durante a masturbação, cortam-se com as unhas grande ou usam cremes hidrantes para tocar as genitálias. Essa ausência de informação acaba gerando riscos à saúde peniana e da vulva, por isso precisamos pensar:

Meu medo de abordar o tema em casa deve se sobrepor à saúde sexual de adolescentes?

No próximo texto falaremos um pouco sobre cuidados pré, pós e durante a masturbação.

Essas informações servirão para adolescentes e pessoas adultas, então volte aqui na próxima sexta-feira para refletirmos coletivamente, ok?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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