'Não tenho paciência com adolescente': nosso discurso fala muito sobre nós
Durante uma atividade sobre desenvolvimento adolescente, voltada para profissionais da educação, saúde e assistência social, uma educadora relata que gosta de trabalhar na área da educação infantil porque não tem paciência com adolescentes.
Ela conta que crianças são muito mais calmas, muito mais amorosas e que não são cruéis como adolescentes. Além disso, informa ela, que adolescentes são "respondões" e sempre estão de mau humor, e que é preciso ter "muito saco" para lidar com os exageros "dessa turminha".
O fato curioso nessa cena é que a educadora em questão é mãe de uma pessoa de 12 e outra de 17 anos de idade. Pergunto se seus filhos são assim e ela responde que não, que os filhos são tranquilos, afinal ela deu educação a eles e, por isso, são amorosos, respeitosos e sabem lidar com seus sentimentos de forma tranquila, afinal estão na psicoterapia há alguns anos.
Essa história me fez refletir muito sobre os discursos que reproduzimos sem passar por uma reflexão mais aproximada.
A adolescência é um momento da vida que acontece junto com a puberdade, que, por si só, já gera muitas mudanças físicas, emocionais e que é vivenciada com muitas expectativas da família, sociedade e do Estado também.
Precisa estudar, precisa "pensar no futuro", precisa conter os desejos, precisa obedecer, mas tem que "mudar o mundo", precisa domar seus sentimentos, precisa não temer as mudanças físicas que estão acontecendo.
Adolescentes são um grupo muito estigmatizado em nossa sociedade, justamente porque ainda impera em nós, pessoas adultas, a ideia de que para ser uma pessoa boa, você tem que obedecer, caso contrário você é uma pessoa rebelde e a rebeldia não é vista como potência, mas é tida como desrespeito.
Adolescentes precisam de acolhimento, assim como as crianças, mas em alguns momentos é nítido o quanto nossa sociedade entende a juventude de forma negativa, trazendo adjetivos duros que só criam barreiras na aproximação.
"Quando Pedro fala de Paulo, Pedro me fala mais de Pedro do que de Paulo". Essa frase de Freud pode ser usada como um convite para refletir sobre o quanto de nós existe no discurso pré-conceituoso sobre adolescentes.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.