Elânia Francisca

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Opinião

A importância do espaço de fala e escuta na convivência com adolescentes

Dia desses, por acaso, encontrei uma colega de graduação no ambiente de trabalho. Eu estava mediando um grupo de apoio psicológico para mulheres e ela era a psicóloga de um serviço. Nos vimos, nos cumprimentamos e constatamos numa conversa rápida que já faz mais de dez anos que exercemos a profissão de psicólogas. Muitas vezes o correr da vida faz com que não notemos o tempo passar e não percebamos o quanto crescemos em nossa caminhada profissional.

Eu me dei conta de que já estou há muito tempo ouvindo demandas de adolescentes que, na maioria das vezes, estão relacionadas a conflitos familiares. Também me dei conta de que, ao dialogar com as parentalidades, muitos pais e mães se sentem ofendidos ao refletir sobre sua parcela de responsabilidade no conflito com adolescentes.

Obviamente, há familiares que admitem ser difícil exercer o papel protetivo com filhos na idade de 12 a 18 anos, mas, infelizmente, a nossa sociedade nos educa para, diante de uma proposta de reflexão, atacar quem nos sugere repensar nossas práticas.

Lembro-me de um pai que me acusou de "colocar filho contra pai" ao receber a devolutiva de que seu filho estava num momento de conflito com ele.

Diante da resistência ao diálogo no setting, a família optou por interromper o acompanhamento do menino comigo. E isso é totalmente compreensível. Afinal, se ter conflito com desconhecidos é difícil, imagine entrar em contato com a informação de que o conflito que terá de lidar é com o seu filho.

O trabalho da psicologia é muito delicado e artesanal, porque nunca sabemos quais são as situações que podem desencadear uma explosão de emoções. Caminhamos com a pessoa atendida nesse campo minado que é a sua história de vida e, em alguns momentos, somos pegas pelos estilhaços dessa bomba. Mas a sessão acaba, e a pessoa vai para casa, reflete sobre o que foi dito e escutado. Eu, como psicóloga, sigo em outras escutas.

O caso é que quando se exerce uma parentalidade próxima com adolescentes, a caminhada nesse campo minado é constante, e, na maioria das vezes, não se tem pausa para refletir sobre os estilhaços.

É como se pai e filha, mãe e filho caminhassem de mãos atadas (e não dadas, voluntariamente) por um campo minado que tem mais espaços de explosão do que de caminhos protegidos. Cada palavra do adulto pode ativar uma bomba, cada gesto de adolescentes pode explodir um campo.

Pronto! Explosão!

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O conflito é inevitável nas relações e podemos aprender muito com ele, mas é preciso momentos de respiro e reflexão sobre os conflitos, sobre as explosões. É preciso que pessoas adultas cuidem de sua saúde mental e fomentem que adolescentes façam o mesmo. Assim, diminui o risco de explosões significarem morte da relação parental saudável, e sim uma possibilidade de fortalecimento.

Como fazer isso?

Busque, se possível, ter espaço de escuta e reflexão das suas angústias sobre ser mãe, pai, educadora, irmã, avó de adolescentes. Tenha espaço de escuta sem julgamento.

A psicoterapia ou análise é um desses lugares, que tal conhecer um pouco?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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