Elânia Francisca

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Opinião

O que faz uma pessoa ser sua amiga? Vamos pensar sobre vínculo de amizade

Entre o final da infância e início da adolescência, lembro que meu sonho era ter amizades que durariam para a vida toda. Eu me imaginava velhinha, indo ao baile da terceira idade com minhas amigas e recordando a época da escola, de quando éramos bem novinhas e aprontávamos todas.

Do final do ensino fundamental até a conclusão do ensino médio, fiz parte de um grupo formado por seis meninas. Éramos inseparáveis, adorávamos fazer tudo juntas e parecia que nossa amizade duraria para sempre.

Com o fim desse ciclo da vida, cada uma de nós foi seguindo caminhos diferentes, escolhendo profissões diferentes e fazendo amizades novas. Nos afastamos de forma muito natural, sem brigas, desavenças, nada disso. A gente só seguiu rumos diferentes mesmo.

O tempo foi passando e eu construí amizades que também seguiram o mesmo rumo daquelas da adolescência. Chegavam, ficavam um tempo e depois íamos nos distanciando por escolhas do cotidiano ou falta de tempo para dedicação ao fortalecimento desse vínculo.

É interessante que todos os vínculos de amizade são formados por pessoas pelas quais sigo tendo muito afeto, carinho e bem querer, e sei que esse sentimento é mútuo. São pessoas que, embora eu não veja mais nem fale com frequência, seguem ocupando um espaço bonito em minhas memórias, portanto seguem sendo amigas.

Quando falamos sobre relações e relacionamentos, acabamos por vezes, restringindo as reflexões para os laços de amor romântico (namoro, casamento etc.), e negligenciamos outras formas de relação, como no caso da amizade.

No trabalho como psicóloga, escuto quase que diariamente adolescentes e pessoas adultas lamentando não ter amizades e informando sobre o vazio que sentem por não serem aceitas em determinado grupo social que desejam muito fazer parte. Quando pergunto "O que faz uma pessoa ser sua amiga?", a resposta, na maioria das vezes, está relacionada a uma idealização, quase que impossível de alcançar.

"Amiga para mim é aquela que está sempre comigo, que cuida de mim, que me escuta, que está lá quando eu preciso."

Essas exigências podem parecer básicas e simples de alguém executar, mas não sei se realmente são.

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Como pode alguém estar sempre "lá" quando eu precisar? E se essa pessoa não estiver "lá", significa que não é uma amiga? É possível estar "lá" sempre que precisamos?

Não estou dizendo que devemos investir em relações que não nos acolhem ou que nos abandonam (estar "lá" é importante, mas acredito que é impossível estar "lá" sempre que precisamos).

Penso que algumas dinâmicas de relações de amizade parecem seguir o mesmo modelo de relacionamento amorosos monogâmicos, onde é preciso ter exclusividade, sensação de completude (minha amiga para tudo para mim) e de hierarquização (esses são meus amigos e esse é meu melhor amigo).

Pensar sobre o que torna alguém uma boa amizade e pensar sobre o que me torna uma boa amizade também é importante, tanto para não nos frustrarmos com os vínculos que criamos quanto para não negligenciarmos as pessoas com quem tecemos afeto.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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