Elânia Francisca

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Opinião

'O que falta para a molecada é limite': precisamos dialogar sobre limites

Em quase todos os momentos de diálogo com familiares de adolescentes, escuto a frase: "O que falta para essa molecada é limite".

Em geral essa indagação é feita quando o assunto são adolescentes que se comportam de uma forma desafiadora diante de pessoas adultas.

Profissionais de educação dizem que a família não dá limites em casa e por isso adolescentes não aprendem a respeitar a escola. A família, por vezes, responsabiliza as novas amizades, dizendo que "depois que passou a ser amigo de Fulana, começou a responder os mais velhos".

A verdade é que desprendemos muita energia tentando nos defender de comentários que nos apontam como pessoas culpadas pelo modo como adolescentes agem mas, ao mesmo tempo, nos empenhamos em buscar alguém para colocar essa culpa.

Esse jogo de culpa me lembra uma frase de "Os Simpsons", em que o personagem Homer diz: "Se a culpa é minha, eu coloco em quem eu quiser".

Nos empenhamos tanto em participar desse empurra-empurra, que acabamos por esquecer de pensar estratégias de cuidado com quem realmente tem sofrido os prejuízos de nossa negligência não só como família, mas como sociedade e, principalmente, como Estado.

Concordo que adolescentes, assim como qualquer pessoa, precisam de limites. Afinal, limites estão relacionados à compreensão que não podemos fazer tudo o que queremos, na hora que queremos. Existem combinados para o bem-viver que vão requerer que deixemos de fazer algo em nome da coletividade.

Numa sala de espera do hospital, por exemplo, não podemos falar alto porque existem pessoas com dor de cabeça e outras dores que pioram com barulho. Na escola, não podemos ouvir música no celular durante a aula porque isso prejudica a nossa compreensão e das demais pessoas.

Os limites nos ajudam a conviver e cada vez que apontamos um limite é fundamental que expliquemos o motivo de ele estar sendo dado.

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Lembro me de que, na minha adolescência, meu pai dizia: "Não vai à festa!", quando eu perguntava o porquê, ele dizia: "Porque eu sou seu pai e eu que mando em você".

Essa explicação não me ensinou que festas noturnas que varam a madrugada são perigosas para adolescentes, só me ensinou que quem tem poder manda e quem não tem, obedece.

Como desdobramento, eu aprendi a obedecer a toda figura de autoridade sem reclamar ou questionar. Você pode estar pensando: "Ué, e isso não é bom?".

Não, isso não é bom.

A primeira vez em que fui assediada sexualmente, eu não resisti à essa violência, eu apenas fiquei quieta e obedeci, porque eu acreditava que, sendo uma figura de autoridade, meu chefe poderia me punir caso eu não o deixasse tocar meu corpo. Eu tinha 22 anos de idade quando isso aconteceu.

Levei um tempo para entender que aquilo foi violento e, para "cair a ficha" de que a obediência sem reflexão sustenta apenas uma relação de poder em que a pessoa mais fraca sai perdendo e a mais forte se mantém inquestionável.

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Quando uma pessoa adulta diz: "Não, você não pode sair hoje à noite", é saudável que adolescentes perguntem o motivo e é mais saudável ainda que pessoas adultas expliquem, com coerência, os motivos daquele limite.

Não é problema apontarmos os limites, o problema é não explicarmos

Não acho que a geração atual de adolescentes precise de limites, penso que a geração atual de adolescentes precise de diálogo sobre limites. Diálogo que todas as gerações anteriores precisaram, porém poucas de nós tivemos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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