Adolescência, saúde e prevenção: temos escutado as demandas dos jovens?
Em 2010, quando iniciei os trabalhos como educadora em sexualidade adolescente, eu ainda era uma jovem muito inexperiente na condução de grupos e nas discussões sobre o tema.
Tudo que eu sabia estava restrito ao ensinamento de colocação adequada de camisinhas e conhecimento sobre métodos contraceptivos e características das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), que naquela época ainda se chamavam DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).
Meu trabalho consistia em organizar uma barraquinha nos bairros periféricos da cidade de São Paulo e explicar as melhores formas de cuidar antes, durante e depois do ato sexual.
Aos poucos, algumas pessoas na adolescência me demandavam conversar sobre outros pontos que minhas atividades não abrangiam.
Certa vez, um menino me perguntou sobre como esquecer um amor não correspondido. Outra menina queria saber se havia algum problema em não se apaixonar nem ter desejo sexual por ninguém.
A cada atividade eu ia aprendendo que sexualidade está para além de ato sexual.
Sexualidade tem a ver com tudo que vivenciamos com nosso corpo —emoções, desejos, memórias e outras questões que acontecem junto com as mudanças fisiológicas
Foi escutando adolescentes que aprendi a trabalhar na área da Sexualidade de forma ampla.
Certa vez escrevi um texto aqui no VivaBem falando sobre a importância de abordarmos temas relacionados às emoções quando falamos sobre sexualidade. Um homem comentou, de forma rude e desrespeitosa, que meu texto era uma grande bobagem (ele usou outro termo) e que a educação em sexualidade deveria se preocupar apenas com uso de camisinha e que sentimentos não são temas que precisamos trabalhar.
Lamento que ainda existam pessoas que não conseguem perceber a importância dos sentimentos quando o assunto é sexualidade. E nem estou falando de ato sexual
Uma pessoa que cultiva a insegurança com o próprio corpo, por exemplo, está atravessada por um sentimento de desconforto consigo mesma. A pessoa que gosta de seu corpo tem outra relação consigo.
Gostar ou não de si tem tudo a ver com sexualidade. Saber lidar com a raiva melhora muito as relações amorosas, por exemplo. Sentimentos são temas da sexualidade!
Para mim, atualmente o grande problema no trabalho em sexualidade é o modo como ignoramos —enquanto sociedade— as reais questões que adolescentes têm com relação ao sexo, à sexualidade e ao autocuidado.
Será que é nosso papel falar apenas de uso de camisinha, descolado do dialogo sobre emoções e sentimentos?
Eu acredito que não.
Acredito que nosso papel enquanto pessoas adultas é de pesquisar e oferecer informações cientificas e respeitosas sobre corpo, puberdade, sexualidade e emoções, mas também é fundamental que nós tenhamos escuta para as perguntas das adolescências atuais, para não cometermos o erro de falar sobre o que já sabem ou ignorar o que querem saber.
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