'Jura não contar?': adolescentes precisam de lugar seguro para falar
Essa semana eu assisti a um vídeo muito bonito chamado "Helga vai à terapia". O enredo, basicamente, é sobre uma menina que, por agredir colegas na escola, foi encaminhada à psicoterapia.
Durante o atendimento à Helga, a psicóloga tenta compreender sua dinâmica familiar e sua raiva com o mundo. Num dado momento, Helga informa à psicoterapeuta que deseja lhe contar algo, mas que é um segredo e ninguém pode saber.
"Meu código de ética diz que não devo dizer o que acontece aqui."
"Jura não dizer? Mesmo se for torturada? Mesmo que alguém coloque sua cabeça num buraco com uma rata cheia de fome, você não diria?"
A psicóloga reafirma que vai guardar aquela informação em sigilo.
Helga então conta a ela algo bem íntimo, conta sobre seus sentimentos e depois disso diz estar aliviada.
A psicóloga lhe diz: "Viu? Você falou em voz alta e nenhuma catástrofe aconteceu."
Adolescentes, quando estão num ambiente sigiloso e saudável de diálogo, como é a psicoterapia ou análise, podem experimentar uma vivência de acolhimento de suas questões e segurança para refletir com calma sobre angústias, sentimentos e decisões.
A psicoterapia é uma oportunidade de olhar para a própria vida e pensar sobre si sem o "barulho" do mundo lá fora —até mesmo para "entender" o barulho interno.
Recordo de uma adolescente que, numa sessão de análise, trouxe o código de ética da psicologia impresso com destaque na parte em que o sigilo é garantido à ela.
Só depois desse exercício de certificar-se de que aquele ambiente era seguro, ela compartilhou suas questões íntimas.
Valorizo muito o processo de construção no atendimento psicológico, sobretudo quando se trata de crianças e adolescentes, já que — diferente dos adultos que respondem por si e vão até a clínica de forma autônoma —, precisam de alguma pessoa adulta para lhe aguardar na recepção ou lhe buscar depois de uma sessão em que choraram bastante e não querem ver ninguém.
Ser psicóloga de adolescentes é estar nesse lugar privilegiado de escuta e acolhimento, mas também é compreender o valor que o sigilo tem.
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