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Fernanda Victor

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nem tudo que é 'natural' é inofensivo: fórmulas emagrecedoras trazem riscos

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

10/02/2022 04h00

Recentemente, a mídia divulgou o caso de uma mulher jovem e saudável que desenvolveu lesão hepática grave após utilizar cápsulas de um chá emagrecedor composto de 50 ervas. Esse trágico evento nos permite lançar alertas sobre a utilização indiscriminada de chás e fórmulas com fins de emagrecimento.

É assustadora e preocupante a busca pelo emagrecimento a qualquer custo, não importando os meios utilizados para obtê-lo. O consumo excessivo de fórmulas e suplementos herbais pode ocasionar problemas cardíacos, renais, gastrointestinais e hepáticos. No caso citado, a paciente apresentou um quadro de hepatite fulminante induzida por fitoterápicos e necessidade de transplante de fígado urgente, com um desfecho devastador e fatal.

Até o momento, não temos dados consistentes na literatura para recomendar o consumo de chás emagrecedores como uma estratégia que auxilie efetivamente na perda de peso. Os dados atualmente disponíveis não demonstram segurança e eficácia a longo prazo desses produtos. Logo, além de não terem benefícios comprovados, não são isentos de riscos!

No Brasil, dispomos atualmente de apenas quatro medicamentos aprovados pela Anvisa para auxiliar na perda de peso: liraglutida, sibutramina, orlistate e, recentemente, a bupropiona associada à naltrexona (ainda não disponível para comercialização). Tais medicações devem ser prescritas mediante avaliação e supervisão médica especializada.

Os produtos naturais são amplamente utilizados e nem todos são regulamentados, alguns nem informam a composição dos suplementos. É preciso estar atento aos produtos com sedutoras propagandas de emagrecimento que estão facilmente disponíveis na internet.

Apesar de muitas vezes divulgados como "naturais", eles não são inofensivos e isentos de efeitos colaterais. Ao serem consumidos em excesso e sem orientação adequada, podem ocasionar danos significativos à saúde.

Além disso, as formulações em cápsulas tendem a ter maiores concentrações e podem conter misturas de ervas que interagem e potencializam os efeitos tóxicos.

O excesso de peso e a obesidade representam um problema de saúde para centenas de milhões de pessoas. Infelizmente, os sistemas de saúde não garantem o acesso a cuidados baseados em evidências e ainda há resistência e estigmas relacionados à obesidade e ao seu tratamento.

Isso explica, pelo menos em parte, a busca crescente por esses "remédios naturais" para emagrecer e a alta lucratividade que movimenta bilhões nesse mercado. Assim, muitas pessoas acabam recorrendo à facilidade de obter esse tipo de tratamento enganoso, mas livre de qualquer julgamento.

Fuja dos atalhos que colocam sua saúde em risco! Evite a automedicação, mesmo de compostos ditos "naturais", mas que podem afetar a sua saúde. Não desperdice tempo e nem dinheiro adquirindo produtos sem benefício comprovado.

Certifique-se que os produtos utilizados com propriedades terapêuticas são autorizados pelos órgãos reguladores. Não utilize qualquer medicação ou suplemento sem orientação por um profissional qualificado.

Referências

1. Batsis JA, Apolzan JW, Bagley PJ et al. A Systematic Review of Dietary Supplements and Alternative Therapies for Weight Loss. Obesity. 2021;29(7):1102-1113.

2. Kidambi S, Batsis JA, Donahoo WT et al. Dietary supplements and alternative therapies for obesity: A Perspective from The Obesity Society's Clinical Committee. Obesity. 2021;29(7).

3. Maunder A, Bessell E, Lauche R et al. Effectiveness of herbal medicines for weight loss: A systematic review and meta?analysis of randomized controlled trials. Diabetes, Obesity and Metabolism. 2020;22(6): 891-903.

4. ECO2021: Exposing Thin Science of Herbals for Weight. Conscienhealth.