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Fernanda Victor

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jejum intermitente não é superior às dietas convencionais, diz estudo

StephanieFrey/iStock
Imagem: StephanieFrey/iStock

Colunista do UOL

12/05/2022 04h00

A prática de jejuar é milenar e permanece encorajada por algumas religiões como sendo algo benéfico ao corpo e à vida espiritual. Nos últimos anos, entretanto, o jejum vem ganhando adeptos com a finalidade de perder peso.

O jejum intermitente nada mais é do que uma estratégia de emagrecimento que alterna períodos de abstinência de comida e períodos de alimentação. Sendo assim, a redução do peso ocorre geralmente devido à restrição da janela alimentar a um período inferior a 10 horas diárias (por exemplo: 8 horas de alimentação habitual e 16 horas de jejum ao longo do dia).

Vale ressaltar que passar longos períodos sem se alimentar, o que pode variar de 14 horas até 36 horas em jejum, não é algo simples e requer orientação médica e acompanhamento nutricional. Manter essa prática de forma sustentada é reservado para poucos, tendo em vista que a maioria não se adapta bem.

Além da baixa taxa de adesão observada a longo prazo, alguns especialistas também questionavam a segurança e eficácia dessa intervenção dietética.

Recentemente, os dados de um estudo publicado em uma das mais importantes revistas do meio médico, a New England Journal of Medicine, mostraram que o jejum intermitente não é melhor que as dietas convencionais com redução de calorias no tocante à redução do peso corporal.

Apesar das limitações da pesquisa, o jejum intermitente também não se mostrou superior na redução do percentual de gordura corporal e dos marcadores de risco cardiometabólicos relacionados à obesidade.

Logo, o jejum intermitente pode fornecer benefícios ao melhorar o peso corporal, o índice de massa corporal (IMC) e a composição corporal na população portadora de sobrepeso ou obesidade da mesma forma que uma dieta de restrição calórica convencional.

Analisando em retrospecto, esses novos dados só reforçam o que outros estudos já sinalizavam: reduzir o consumo alimentar diário é mais importante do que a estratégia utilizada. No final das contas, seu corpo precisa gastar mais calorias do que ingerir e é exatamente isso que permite gerar o déficit calórico fundamental para a perda de peso.

Além disso, independente da intervenção dietética, nenhuma delas garantirá controle definitivo do peso. Manter o peso perdido é uma árdua tarefa, mais difícil até do que perder peso. O processo de emagrecimento sempre exigirá vigilância e esforços contínuos.

Assim, os melhores resultados para o controle do peso estão condicionados à adesão sustentada de um estilo de vida que estimule a restrição de calorias diárias e o aumento da prática de exercícios físicos.

Não há como negar que o jejum intermitente constitui um método de restrição alimentar que favorece a redução e o controle do peso corporal, mas ainda são necessários mais estudos que indiquem a melhor forma de realizá-lo e ainda que direcionem o perfil de paciente que melhor se beneficia dessa estratégia nutricional.

Lembre-se: a melhor abordagem é aquela que funciona para você, considerando sua individualidade.

Referências

1. Liu D et al. Calorie Restriction with or without Time-Restricted Eating in Weight Loss. N Engl J Med 2022; 386:1495-1504.

2. Guerrero AE et al. Effectiveness of an intermittent fasting diet versus continuous energy restriction on anthropometric measurements, body composition and lipid profile in overweight and obese adults: a meta-analysis. Eur J Clin Nutr 75, 1024-1039 (2021).