A farsa dos adoçantes culinários
Imagine que você quer emagrecer, manter o seu peso atual ou melhorar a saúde. Um dos primeiros passos é reduzir o consumo de açúcar.
Uma forma de fazer isso é eliminar os doces - algo desafiador para a maioria de nós. Enquanto alguns conseguem reduzir a quantidade de bebidas e alimentos açucarados, outros não abrem mão do paladar e escolhem as versões sem açúcar. É aí que mora o problema.
Quem gosta de cozinhar, já deve ter visto os adoçantes de uso culinário, também chamados "forno e fogão". Esses produtos podem ser usados nas receitas substituindo o açúcar na mesma proporção. Por exemplo, se a receita original pede uma xícara de açúcar, você usa uma xícara de adoçante culinário.
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Para que essa substituição funcione, o adoçante precisa ter propriedades químicas semelhantes ao açúcar, como conferir textura, caramelizar ao assar e manter o mesmo volume nas receitas. Por isso, os fabricantes frequentemente utilizam a maltodextrina, um ingrediente que não é classificado como açúcar pela legislação, mas que se transforma rapidamente em glicose durante a digestão.
A maltodextrina é um carboidrato que não tem gosto e apresenta-se como um pó branco. Apesar de seu alto impacto glicêmico, é permitida em alimentos etiquetados como "sem açúcar" e é amplamente usada como agente de corpo para aumentar o volume dos adoçantes de alta intensidade, possibilitando seu uso na mesma medida do açúcar. Mas isso gera um paradoxo: de que adianta trocar açúcar por algo que, minutos após a ingestão, é convertido em açúcar no corpo? Existem inúmeros adoçantes artificiais e naturais que adoçam sem causar nenhum impacto glicêmico.
De acordo com o médico José Carlos Souto, em seu livro Uma dieta além da moda, esses produtos são basicamente amido (maltodextrina, ou seja, glicose pura) adoçado artificialmente (ou naturalmente, quando o adoçante é estévia, por exemplo). Assim, embora sejam comercializados para diabéticos, 90% a 98% de sua composição são carboidratos.
Exploram a boa-fé das pessoas que, de forma geral, não sabem que zero açúcar não é sinônimo de zero carboidrato. Esse tipo de adoçante elevará a glicemia de um diabético e elevará bastante a insulina de quem o consumir. É uma aberração da legislação, um verdadeiro crime contra o consumidor (embora a legislação vigente o permita).
Maltodextrina é glicose pura (na forma de polímero) e é o principal constituinte dos adoçantes culinários em pó - mantenha distância. Você pensa que está comprando só adoçante, mas leva pra casa um pote cheio de carboidrato.
Ao escolher um adoçante, evite os chamados "forno e fogão" ou "culinários". Essa troca não apenas não vale a pena, como acaba sendo extremamente prejudicial, sobretudo para os diabéticos, pois geram a falsa ilusão de que terão pouco impacto sobre os níveis de açúcar no sangue. Embora tenham uma quantidade de calorias ligeiramente inferior à do açúcar, é uma diferença pouco significativa.
Os adoçantes em gotas não têm calorias, carboidratos, nem impacto glicêmico. Já se você faz questão de utilizar uma versão em pó, a estévia da marca Color Andina é 100% estévia. Apesar de ser menos prática na dosagem, pois adoça 300 vezes mais que o açúcar, não vem diluída em amido e tem um sabor agradável, ao contrário de outras versões de estévia.
Como você já sabe, o Guia do Supermercado não é patrocinado por nenhuma marca. Por isso temos a liberdade de criticar, mas também de elogiar os produtos que merecem um lugar no nosso carrinho de compras. Para fazer boas escolhas, lembre-se sempre de conferir o rótulo dos produtos avaliados aqui, pois o fabricante pode alterar a composição a qualquer momento, adicionando ou substituindo ingredientes.
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