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Gripe e covid: como lidar com surtos de outras doenças durante a pandemia
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Por causa da pandemia, esses dois últimos anos não foram fáceis para ninguém. E, quando tudo parecia caminhar para um início de 2022 mais tranquilo aqui no Brasil, somos obrigados a lidar com a disseminação descontrolada da nova variante do coronavírus, a ômicron, e com um surto de gripe, que está levando muita gente para os hospitais públicos e privados.
Para saber como as equipes de saúde estão lidando com essa junção nada agradável de covid-19, gripe e outras viroses respiratórias, conversei com Moacyr Silva Júnior, médico infectologista do Serviço de Controle de Infecção e Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); e com Telma Antunes, doutora em pneumologia pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e médica pneumologista do Hospital Albert Einstein.
VivaBem Queria entender a que atribuir o surgimento desse surto de outros vírus respiratórios além do Sars-CoV-2?
Dr. Moacyr Silva Júnior Com a adesão da população brasileira à vacinação contra a covid-19, os casos da doença e a mortalidade caíram sensivelmente. Até o momento, essa nova variante ômicron não mostrou um aumento expressivo de mortalidade e, sim, elevação dos casos nos países mais prevalentes.
Durante a pandemia, muitas pessoas não procuraram os postos de saúde para se vacinar contra o influenza (vírus da gripe) ou outras infecções. Assim, a cobertura vacinal está aquém do esperado. Por exemplo: a cobertura vacinal brasileira para influenza está em torno de 60%, provavelmente, isso levou ao surto em São Paulo e no Rio de Janeiro.
VivaBem A vacinação é nossa grande arma contra doenças infecciosas como a gripe e a covid-19. Ao mesmo tempo, não podemos depender exclusivamente das vacinas, especialmente em um período de pandemia ou de surto viral. Como lidar com essa situação e quais vírus estão mais saturando os atendimentos hospitalares?
Silva Jr. O número de atendimentos de quadros gripais ou de síndrome respiratória aguda aumentaram nos hospitais. Outros vírus —como o rinovírus, parainfluenza, vírus sincicial respiratório— também tiveram aumento substancial. Talvez, isso se explique pela diminuição do uso da máscara e maior aglomeração da população, que está saturada, cansada e acaba descuidando das orientações para evitar a disseminação de vírus respiratórios (higienizar bem as mãos, manter distanciamento social e usar máscara).
VivaBem Como os hospitais estão fazendo a triagem para saber se a pessoa tem gripe ou covid-19 e não mandar todos os pacientes fazerem o teste para detectar o coronavírus?
Silva Jr. Em dezembro, o nosso "presente de Natal" é o aparecimento desses outros vírus respiratórios e lotação das unidades de pronto atendimento. Isso está fazendo com que os médicos tenham que pensar em como diferenciar e diagnosticar essas outras infecções respiratórias não relacionadas ao coronavírus.
Sabe-se que o vírus da influenza pode ser tão letal quanto o vírus da covid-19. Tivemos esse aprendizado em 2009, com o H1N1. No momento, muitos médicos acabam prescrevendo empiricamente o medicamento oseltamivir (Tamiflu) para os pacientes que chegam com sintomas respiratórios. Na grande maioria dos hospitais, não há um esquema montado para diagnóstico desses outros vírus.
VivaBem Como você descreve seu ano de 2021 nessa luta contra a pandemia? E qual sua projeção para 2022?
Silva Jr. Meu 2021 se resume a muito trabalho contra a covid-19, em hospitais lotados, com demanda reprimida e com outras doenças que não foram a provocada pelo coronavírus. Para fechar o ano, veio o surgimento da ômicron —que aparentemente desperta mais medo do que morte— e, de quebra, um surto de influenza. Em 2022, o cenário deve ser mais favorável, as coisas devem voltar ao mundo "quase normal", com a covid-19 sendo apenas um resfriado comum, com vacinação anual, e com outros vírus respiratórios seguindo a sua sazonalidade habitual.
VivaBem Como falei, também conversei com a Dra. Telma Antunes. A pneumologista ressaltou que, "de fato, os prontos-socorros estão lotados de pessoas com infecções respiratórias virais. São pacientes com Influenza A H3N2, H1N1, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, metapneumovírus, rinovírus etc. Todos os vírus de outono e inverno ao mesmo tempo".
Quando perguntei sobre a gravidade desses vírus e se está havendo diferenças aos anos anteriores, Antunes disse que "não acha que esteja diferente dos outros anos (pré-pandemia) em termos de gravidade, mas sim a quantidade de pacientes doentes ao mesmo tempo."
Esse é um problema que pode gerar um forte transtorno para o sistema de saúde. Questionei a médica sobre como estão fazendo a triagem para não ter que mandar todos os pacientes realizarem o teste de covid. Ela respondeu:
Dra. Telma Antunes Toda síndrome gripal começa com sintomas parecidos, então gera confusão com a covid-19. No hospital onde eu trabalho, fazemos pesquisa rápida de influenza, de vírus sincicial respiratório e o PCR para covid-19. O painel de patógenos respiratórios é pedido para pacientes com maior risco de complicações pulmonares.
VivaBem Com tudo isso, quais as recomendações que você deixaria para as pessoas? O que fazer para evitarmos um maior prejuízo de saúde pública?
Antunes Acho importante reforçar que o mecanismo de transmissão dos vírus respiratórios é muito semelhante entre si. Esse surto de infecções só nos mostra que as pessoas reduziram muito o uso de máscara e o distanciamento social. Com a chegada da variante ômicron, que é mais transmissível que a delta e escapa parcialmente das vacinas aplicadas, existe, sim, um grande risco de aumento dos casos de covid-19 nesse final de ano e início de 2022. Se não mantivermos os cuidados, provavelmente vamos ter que voltar a reestruturar os sistemas de saúde para receber um maior número de pacientes mais uma vez.
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