Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A Pfizer não se responsabiliza por reações adversas da vacina?
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Em dois anos de pandemia, tivemos que lidar com muitos negacionistas, especialmente quando o assunto é vacina. Mas é graças à vacinação que estamos conseguindo manter baixo (comparado com outros momentos) o número de mortes e internações provocadas pela covid-19, mesmo diante da ômicron, variante que gerou um pico de casos.
Driblamos os negacionistas e conseguimos vacinar dois terços da população com duas doses. Agora, chegou a vez das crianças e, como sempre, pessoas que são contra a vacinação têm atuado com força para gerar medo nos familiares e impedirem a proteção dos pequenos. Um dos discursos usados é que a Pfizer não se responsabiliza por qualquer efeito colateral provocado pela vacina. Será que é verdade?
Ninguém melhor para responder isso do que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Conversei com Gustavo Mendes Lima Santos, gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos, que respondeu que essa é uma questão que tem gerado muito confusão.
Ele diz que usar uma frase dessa contra a vacinação é pura irresponsabilidade. Gustavo Mendes ressaltou que, para aprovar um imunizante, a Anvisa avalia os estudos de eficácia da vacina, ou seja, quanto que ela funciona, e os estudos de segurança —isto é, as reações adversas, efeitos colaterais e problemas observados nas pessoas que se vacinaram.
A agência avalia também onde as vacinas vão ser fabricadas, as condições locais e as boas práticas de fabricação, se há condições técnico operacionais etc. E num aspecto a Anvisa tem se destacado: a farmacovigilância, que é a obrigatoriedade imposta aos laboratórios farmacêuticos de apresentarem periodicamente relatórios sobre a segurança de suas vacinas.
Nesses relatórios, que devem ser apresentados para a liberação do uso de uma vacina, a Anvisa precisa verificar se o plano de farmacovigilância está adequado, ou seja, o que a empresa vai fazer para garantir que as pessoas que vão se vacinar serão devidamente informadas sobre tudo que tem de evidências —a bula geralmente é o melhor lugar para obter essas informações. Mas, muitas vezes, a bula não é acessível ao público geral. Então, são necessárias estratégias adicionais.
Por exemplo, no caso das vacinas da Pfizer para o público infantil, uma estratégia do plano de farmacovigilância foi o frasco do produto ter uma cor diferente do de adultos, para facilitar a diferenciação da vacina e evitar erros.
Na farmacovigilância, a empresa tem a responsabilidade de acompanhar qualquer problema que ocorrer e apresentar relatórios à Anvisa, trazendo já um processo de investigação minucioso para dar tranquilidade à população e para a Anvisa verificar se os riscos (efeitos adversos) do imunizante continuam sendo menores do que os benefícios da vacina.
Então, apesar de toda essa discussão de que "a empresa não tem responsabilidade", ela tem e deve fazer esse acompanhamento, sim. Gustavo Mendes ressalta que, talvez, quando as pessoas dizem que "a Pfizer não tem responsabilidade" é porque querem ser ressarcidas financeiramente por danos morais, materiais ou morte, caso a vacina provoque algo. Quanto a isso, realmente não existe uma obrigação do fabricante.
Mas vale lembrar que o governo publicou uma lei dizendo que vai acompanhar e fazer o tratamento do paciente, caso haja uma reação adversa por conta das vacinas. Além disso, existem as esferas judiciais, que estão aí para as pessoas buscarem uma indenização financeira, se for o caso —e o fabricante poderia ser responsabilizado. Então, está muito claro que todos têm responsabilidades pelos efeitos adversos de uma vacina: a Pfizer (ou qualquer outra farmacêutica), a Anvisa, o governo.
Vale ressaltar que a Anvisa tem muita segurança ao aprovar uma vacina. Gustavo Mendes reforça que, nos estudos e dados apresentados do uso do imunizante em crianças, não existe nenhum caso de eventos adversos graves ou morte, que possa impedir a aprovação do imunizante.
Então, fique tranquilo para vacinar seu filho e saiba que a Anvisa continuará acompanhando a vacinação e recebendo dados atualizados sobre ela. Vale ainda chamar a atenção para o fato de que o risco oferecido pela vacina é mínimo e infinitamente menor do que os riscos de complicações que a criança pode ter se pegar covid-19 sem estar imunizada.
Vacina experimental?
Esse é mais um argumento usado pelos negacionistas. Mas Gustavo Mendes diz que a declaração de que a vacina é experimental é totalmente equivocada. Mendes pede para a sociedade buscar informações de confiança e, sempre que tiver dúvidas sobre as vacinas, verificar o que diz a Anvisa e/ou em agências reguladoras de outros países (como a FDA, nos EUA),
Não acredite nem espalhe fake news. Infelizmente, há situações em que muitas pessoas pegam parte de um estudo, uma frase de um artigo científico, e divulgam como se aquilo fosse uma verdade. Mas a gente que trabalha com ciência sabe que é preciso avaliar a totalidade das informações, que é preciso sempre agregar conhecimento para tomar uma decisão e divulgar uma informação.
Mendes recomenda ainda que as pessoas busquem confiar em cientistas que estão alinhados com a prática e os rigores científicos e que sabem da importância da vacinação, pois doença viral, como a covid-19, se combate com vacinas. Claro que medicamentos podem ajudar, mas a vacinação é que oferece uma solução coletiva para sairmos dessa pandemia.
Ser contra uma vacina por achar que ela é experimental ou que trará efeitos que a gente ainda não conhece é totalmente equivocado. Não acredite em quem fala isso e ignore esse tipo de informação.
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