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Gustavo Cabral

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Vacinas causam autismo': cuidado com a maior fake news sobre imunização

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

11/04/2022 04h00

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Abril é o mês de conscientização do autismo e falar sobre a condição é algo extremamente importante por diversos aspectos, entre eles, a necessidade de uma contínua orientação social sobre o transtorno —pois as pessoas com autismo muitas vezes precisam de um suporte especial, já que podem ter prejuízos na capacidade de comunicação e de interação social.

Além de entender a pessoa com autismo, é necessário entender, orientar e dar suporte para a família e para toda a população sobre o assunto. Inclusive, orientação é fundamental, pois, quando falamos de autismo, muita gente ainda acredita numa das maiores mentiras já contadas sobre as vacinas: que elas causam ou podem ter alguma relação com o transtorno do espectro autista.

Como isso surgiu?

O autismo é uma condição que ocorre por alterações genéticas, normalmente hereditárias. Mas, além disso, existem trabalhos que mostram que fatores ambientais podem condicionar seu desenvolvimento. É esse fato que pessoas mau-caráter utilizam para gerar medo, inventando mentiras.

A fake news começou em 1998, quando foi publicado na The Lancet, uma das maiores revistas científicas do planeta, um artigo que associava o desenvolvimento do autismo à vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. O artigo trazia dados que diziam que 12 crianças atendidas em uma região de Londres, na Inglaterra, apresentaram sintomas de uma nova síndrome, e esta síndrome poderia ter relação com a vacina.

Bom, dá para imaginar que diversas famílias entraram em pânico após a publicação do estudo, que foi divulgado em diversos meios de comunicação.

Depois do grande impacto gerado pela divulgação da pesquisa, Andrew Wakefield, médico e principal autor do artigo, passou a incitar a sociedade contra o uso da vacina tríplice, o que contribuiu fortemente para o surgimento de diversos movimentos anti-vacinas.

Apesar da forte crítica científica sobre a publicação, com diversos estudos mostrando que os dados publicados por Wakefield estavam errados, o artigo só foi retratado 12 anos após a sua publicação. Além da retratação, essa fraude fez com que o britânico perdesse sua licença médica. Mas o estrago já estava feito, com consequências sérias à saúde pública, como a diminuição no número de crianças vacinadas e o ressurgimento de casos das doenças que a vacina protege.

Após investigações, o Conselho Médico Geral da Grã-Bretanha concluiu que as crianças que Wakefield e equipe estudaram foram cuidadosamente selecionadas, com forte viés de interesse pessoal e conflitos de interesss —muitas pesquisas de Wakefield eram financiadas por advogados que defendiam pais em ações judiciais contra fabricantes de vacinas. Enfim, um trabalho de um médico e sua equipe causou um prejuízo humano, financeiro e científico incalculável, por interesses pessoais.

Conseguem fazer algum paralelo com o que estamos vivendo agora na pandemia?

Portanto, tenha muito cuidado com notícias que você recebe e compartilha, pois podem existir interesses espúrios envolvidos na propagação de informações falsas. A ciência não é feita apenas de uma opinião, mas sim de trabalhos coletivos e por diversos grupos ao redor do mundo. Então, quando alguém propuser algo de fácil conclusão e de simples resolução de problemas, por favor, desconfie, pois pode haver interesses obscuros.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL