Entenda melhor a vacina contra o câncer de pele, que parece promissora
A ciência avança rapidamente na criação de novas vacinas, especialmente contra doenças crônicas. E o câncer tem sido um dos principais alvos dos pesquisadores.
Uma grande esperança aflorou recentemente quando o CEO da farmacêutica Moderna —que produziu uma vacina contra a covid-19 utilizando a tecnologia de mRNA (RNA mensageiro), afirmou que uma vacina para combater câncer de pele melanoma (tipo mais grave da doença) deverá ser aprovada para uso humano nos próximos anos, talvez até 2025.
A afirmação é animadora. Mas, primeiro, é importante ressaltar que a fala do CEO da empresa não se equipara a dados publicados em revistas científicas. Portanto, ainda não temos como nos aprofundar na eficácia dessa vacina.
Uma das vantagens da tecnologia mRNA (utilizada nessa vacina contra o câncer de pele) é que ela pode ser usada contra múltiplos alvos. Quando falamos de câncer, isso é muito importante, já que a palavra nomeia mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, devido a mutações que podem ser geradas por diversos agentes mutagênicos. Esses agentes provocam mutações em células do corpo que não são eliminadas pelo sistema imune, crescendo desordenadamente e desenvolvendo cânceres.
A questão é que os marcadores das células que estão crescendo desordenadamente são diversos e podem surgir inúmeras "marcas" ou marcadores celulares, dependendo de cada câncer e de cada estágio da doença. Ou seja, é algo nada simples de combater.
Dessa forma, as tecnologias usadas em vacinas precisam ter uma enorme plasticidade, para que possam ser aplicadas, por exemplo, de forma personalizada, como é a proposta da vacina contra o câncer de pele desenvolvida pela Moderna. Ela utiliza diversos antígenos que podem ser detectados nos melanomas.
Os resultados preliminares citados pelo CEO da Moderna são muito bons e demonstram um passo importante para o desenvolvimento de vacinas terapêuticas.
Um ponto extremamente importante é que a vacina não será aplicada sozinha, ela não é uma "bala mágica" para resolver o problema do câncer de pele. Ela deve ser combinada com outro imunobiológico, o Keytruda.
O que é essa outra medicação?
O Keytruda é um anticorpo monoclonal humanizado, o Pembrolizumabe, já utilizado para tratar melanoma cutâneo metastático e um tipo de câncer de pulmão, em combinação com quimioterapia. Sim, ele é usado de forma combinada, pois para lutar contra doenças tão complexas é necessário utilizar diversas "armas".
Com a junção de uma vacina e anticorpos monoclonais é possível ter uma ação "imediata" do anticorpo monoclonal, enquanto a vacina consegue estimular o sistema imunológico de maneira específica para "atacar" o câncer. É a combinação de uma imunização passiva, através dos anticorpos monoclonais, com a imunização ativa, com a vacina, que ativa a imunidade.
Aproveito esse momento para citar a importância do desenvolvimento científico, pois anticorpos monoclonais são medicamentos caros. Ou seja, a combinação desse produto com a vacina não é algo tão simples de acontecer para a população mais carente, sem um gasto enorme do poder público.
Quem lê minha coluna sabe o quanto eu chamo a atenção para a importância de ter um intenso investimento em ciência e tecnologia nacional.
Os imunobiológicos podem, devem e precisam ser desenvolvidos aqui no país, pois temos um gasto absurdo com a compra desses medicamentos do exterior.
Temos diversas tecnologias e cientistas para desenvolver vacinas e anticorpos monoclonais, assim como outros imunobiológicos, que podem favorecer a sociedade com produtos de qualidade e preço baixo.
Mas, infelizmente, ainda temos a cultura de buscar por produtos "quase prontos", com tecnologias desenvolvidas externamente, para produzirmos aqui no Brasil.
Com isso, mesmo sendo fabricados aqui, boa parte do lucro desses remédios vai para quem desenvolveu o produto. Ou seja, trabalhamos para produzir o que os outros inventam, e ainda pagamos caro por isso. Essa mentalidade e atitude precisa mudar de maneira radical! Ou seremos apenas produtores do que não nos pertence.
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