Programação fetal: hábitos na gravidez afetam saúde do bebê na vida adulta
Compreender o impacto da programação fetal na origem de doenças na idade adulta é essencial para a saúde pública e a medicina preventiva.
O fenômeno ocorre durante a idade gestacional, quando o feto é exposto a estímulos ambientais que podem resultar em alterações de longo prazo, predispondo-o a desenvolver doenças crônicas ao longo da vida, como sugerem evidências científicas crescentes.
Recentemente, um estudo publicado na revista científica "Journal of Pediatric Endocrinology and Metabolism" abordou essa questão complexa.
A programação fetal é um campo de estudo crucial, que investiga como hábitos maternos e fatores ambientais —alimentação, estresse, toxinas ambientais etc.— moldam o desenvolvimento e a saúde futura do feto, inclusive na vida adulta.
Um ponto de partida importante é reconhecer a ampla variedade de agentes influenciadores da programação fetal na gestação, entre os principais estão:
- tabagismo
- consumo de álcool
- uso de corticosteroides
- estresse
- distúrbios neuropsiquiátricos
- poluição do ar
- alimentação e uso de suplementos
- sedentarismo
- obesidade
*É importante ressaltar que os mecanismos exatos que fazem com que esses fatores atuem na programação fetal ainda não são totalmente compreendidos.
Dentre os diversos fatores relacionados à programação fetal, vou focar aqui nos efeitos da alimentação materna, das condições relacionadas à obesidade e do uso de suplementos dietéticos no risco de o bebê desenvolver doenças crônicas mais tarde na vida.
Estudos têm mostrado que filhos de mães submetidas a dietas restritas em proteínas durante a gravidez apresentam alterações metabólicas significativas, como aumento da gliconeogênese hepática e da oxidação de ácidos graxos já na quarta semana de vida.
Além disso, pesquisas sugerem que dietas restritas em proteínas durante a gestação resultam em baixos níveis de marcadores intracelulares, levando a uma redução significativa na expressão placentária de componentes essenciais para o transporte de aminoácidos, aumentando o risco de obesidade na adolescência da prole.
É essencial ter cautela ao discutir os efeitos de diferentes nutrientes, evitando demonizá-los indiscriminadamente.
Embora seja comum enfatizar a importância da nutrição proteica, é crucial não negligenciar a restrição calórica durante a gravidez, pois isso pode aumentar o risco de dislipidemia, obesidade e esclerose múltipla na idade adulta, além de estar associado ao crescimento intrauterino restrito, um fenômeno que pode levar ao desenvolvimento de doenças metabólicas na idade adulta.
Quero deixar claro que o objetivo aqui não é incentivar gestantes a exagerarem na alimentação, consumindo mais proteína ou calorias, na esperança de melhorar a saúde da criança, mas sim destacar a importância de equilibrar a alimentação e manter um estilo de vida saudável durante a gestação.
A obesidade materna e o diabetes gestacional são exemplos de fatores que desempenham papéis significativos na programação fetal, afetando a absorção de ferro e o transporte de oxigênio para o feto, aumentando o risco de distúrbios neurológicos e doenças crônicas na prole.
Em suma, as escolhas feitas durante a gestação podem ter um impacto significativo na saúde futura da criança, influenciando o risco de uma variedade de doenças crônicas na idade adulta, como resistência à insulina, intolerância à glicose, dislipidemia, obesidade, hipertensão e diabetes mellitus.
Portanto, é crucial considerar uma variedade de fatores durante a gestação para promover a saúde ideal tanto para a mãe quanto para o filho.
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