Gustavo Cabral

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Opinião

Há relação entre vacinas contra a covid e miocardite, como mostrou estudo?

Os possíveis efeitos adversos causados pelas vacinas contra a covid-19 geram debates há muito tempo. E um estudo recentemente publicado na revista Vaccine movimentou novamente essa discussão.

A pesquisa analisou dados de 99 milhões de pessoas imunizadas contra a covid-19 com as vacinas da AstraZeneca (ChAdOx1), Pfizer (BNT162b2) e Moderna (mRNA-1273). Realmente, a pesquisa mostrou que a vacinação gerou um pequeno aumento no risco de desenvolver miocardite nos primeiros 28 dias após sua aplicação. Mas não podemos olhar esses dados isoladamente, sem uma análise crítica.

Especialmente no contexto atual, em que movimentos antivacina ganham força, é crucial interpretar cuidadosamente as informações científicas e comunicá-las de maneira clara e responsável.

Dessa forma, cabe citar um outro estudo muito importante, publicado na renomada revista científica Nature Medicine, que também abordou os riscos relacionados à vacinação contra a covid-19, mas adicionou números comparativos entre os riscos gerados pela vacinação e os riscos gerados pela infecção com o novo coronavírus (SARS-CoV-2).

O estudo multinacional envolvendo 99 milhões de indivíduos vacinados investigou a ocorrência de internações hospitalares ou óbitos relacionados à miocardite, pericardite e arritmias cardíacas no primeiro mês após a vacinação ou teste positivo para covid-19.

Os resultados revelaram que há um risco aumentado de miocardite após a aplicação das vacinas da AstraZeneca, Pfizer e Moderna. Mas, para além dessa rápida interpretação, é importante ressaltar que, apesar dos potenciais efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, a decisão de não se vacinar pode acarretar riscos muito maiores.

Ao analisarmos os dados dos dois estudos que citei, é fácil perceber que a exposição ao vírus sem a proteção da vacinação aumenta significativamente o risco de desenvolver miocardite e outras complicações graves associadas à covid-19. Vamos comparar os dados.

Aumento de casos de miocardite nos 28 dias após a vacinação ou após teste positivo para a covid:

  • AstraZeneca - 2 casos a cada 1 milhão de pessoas vacinadas
  • Pfizer - 1 caso a cada 1 milhão de pessoas vacinadas
  • Moderna - 6 casos a cada 1 milhão de pessoas vacinadas
  • Coronavírus - 40 casos a cada 1 milhão de pessoas infectadas
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Entendeu que o risco de ter uma miocardite é muito maior ao ter covid do que ao se vacinar?

Investigar os casos associados à vacinação é importante, visto que a vigilância constante dos efeitos colaterais é uma prática padrão em todos os medicamentos e vacinas licenciados para uso humano, uma área conhecida como farmacovigilância.

Mas não podemos usar os resultados de uma pesquisa sem uma análise mais crítica e responsável. Por ser um estudo retrospectivo, sempre há a necessidade de levarmos em consideração diversos outros fatores que possam ter gerado o acometimento de complicações como as citadas nos estudos.

Em suma, enquanto os estudos científicos continuam a fornecer dados valiosos sobre os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, é fundamental que as autoridades de saúde usem essas informações para conduzir políticas de vacinação e campanhas de conscientização de maneira eficaz.

Nós nunca podemos deixar de lado o rigor científico, nem podemos esquecer que a vacinação continua sendo uma ferramenta essencial na luta contra a pandemia, proporcionando benefícios significativos à saúde pública e à sociedade como um todo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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