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Jairo Bouer

Conflitos ligados à covid-19 esfriaram a vida sexual dos casais

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

05/10/2020 04h02

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A atual pandemia colocou a vida sexual de muita gente na geladeira, mas por motivos diferentes. Enquanto os solteiros deixaram de sair para conhecer gente nova ou colocar em prática o que tinham ensaiado nas trocas de mensagens picantes, muitos casais de namorados tiveram que dar uma pausa nos encontros, porque um ou ambos moravam com uma pessoa mais velha ou com doença crônica.

Só se deu bem, nos últimos meses, quem já vivia junto, certo? Errado. O estresse atingiu em cheio a libido de quase todo mundo —digo "quase", pois, para alguns, as proibições só serviram para atiçar o desejo.

Outro motivo para a "recessão sexual" enfrentada por muitos casais foi apontado por um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Indiana, nos EUA, e publicado este mês no Journal of Sex & Marital Therapy. De acordo com os resultados, os baldes de água gelada foram as brigas relacionadas à covid-19.

Essa pesquisa ouviu mais de 1.000 norte-americanos com idades entre 18 e 94 anos, sendo que 782 estavam em um relacionamento sexual ou romântico. Os dados foram coletados em meados de abril, mês em que a quarentena estava em pleno vapor. Os participantes responderam a diversas perguntas sobre momentos de tensão com o parceiro, deflagrados pelas restrições impostas.

Em seguida, os pesquisadores analisaram o quanto aqueles conflitos se refletiram na intimidade dos casais, e a associação foi certeira. Aqueles que relatavam mais conflitos ligados à covid-19 foram mais propensos a contar que a vida sexual tinha esfriado. E que, quando a relação rolava, as chances de chegar ao orgasmo eram menores. Até atividades como abraçar, beijar e dormir de conchinha foram mais raras para esses participantes.

Alguns casais até conseguiram reverter o impacto da ansiedade na vida íntima, trazendo alguma novidade para a relação. É o que concluiu outro estudo, feito pelo Instituto Kinsey com 1.559 adultos com cerca de 34 anos de idade. Apesar de a frequência do sexo e até da masturbação ter sido mais baixa em relação a 2019, foram muitos os casais que variaram o cardápio para não deixar a peteca cair nesta pandemia. Posições diferentes, sexting, compartilhamento de fantasias, pornografia e videoconferências foram algumas estratégias adotadas.

Mas a verdade é que quando as coisas não estão bem fora da cama, é difícil que se resolvam nela. Dar uma apimentada na relação, caprichar nas massagens, no clima e nas roupas íntimas depende da motivação para manter a chama acesa. Quando as manias do outro começam a causar irritação e não tem futebol, jantar com os amigos nem mesmo trabalho fora de casa para distrair a mente, não é fácil acertar os ponteiros.

É importante que, apesar das dificuldades, a comunicação seja uma prioridade para o casal. Falar o que incomoda e ter paciência para ouvir as queixas do outro têm que ser regra, não exceção. Outro ponto é não deixar para o futuro aqueles pequenos prazeres em comum, como assistir a uma série ou praticar algum hobby juntos, ainda que o tempo para o lazer tenha ficado mais escasso por causa da pandemia.

As crises conjugais em tempos de covid-19 não estão poupando nem os famosos. Uma entrevista da cantora Ivete Sangalo na última semana mostrou que a vida a dois não anda fácil para ninguém. Pois é! Sair para dar uma volta quando a conversa muda de tom é outro conselho. É no calor das emoções que a gente faz acusações desmedidas.

Esse novo coronavírus, que já parece um velho inimigo, já trouxe perdas demais para todo mundo. Vale a pena fazer um esforço para o distanciamento não incluir as pessoas que fazem a vida da gente melhor, pelo menos na maior parte do tempo.