Garotos também sofrem violência sexual, mas o assunto ainda é tabu
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Esta quarta-feira (25) é o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, data promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU). O tema, que tem cada vez mais destaque na imprensa e na sociedade, é de extrema importância, principalmente nesse momento em que pesquisas apontam o agravamento do problema devido ao isolamento social e ocorreram fatos vergonhosos como a conduta adotada contra a promoter Mariana Ferrer numa audiência divulgada pelo The Intercept Brasil.
Mas não podemos esquecer que homens, especialmente meninos, também são vítimas dessa forma de violência. Nos EUA, as estatísticas indicam que um em cada seis homens sofre abuso sexual ou estupro em algum momento da vida. E há quem diga que essa proporção é maior. O mesmo machismo que leva uma em cada quatro mulheres a sofrer algum tipo de violência sexual faz com que as vítimas do sexo masculino tenham medo de denunciar esses crimes e sofram em silêncio.
Dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde mostram que mais de 58 mil crianças foram vítimas de abuso sexual no país entre 2011 e 2017. Desse total, 25,8% são meninos. Vale destacar que nas notificações de violência sexual entre as crianças do sexo masculino, 48,9% tinham entre 1 e 5 anos e 48,3%, entre 6 e 9 anos. Na maior parte das vezes, o crime acontece dentro de casa e o abusador também é do sexo masculino.
O escritor norte-americano Tim Ferris, dono de um podcast com mais de 500 milhões de downloads, admitiu num episódio recente ter sido abusado sexualmente várias vezes, dos 2 aos 4 anos de idade, pelo filho de uma babysitter, que tinha cerca de 12 anos. Ele conta que passou por diferentes tipos de terapia para vencer o trauma, ao longo de muitos anos, e descreve sua jornada num livro. Mas ele não quis levar o caso à Justiça.
Como diz Ferris e especialistas no assunto, é difícil saber até que ponto a baixa proporção de meninos nas estatísticas é reflexo de subnotificação. Vale lembrar que mulheres contam com delegacias, ambulatórios e grupos de acolhimento específicos para relatar casos de violência sexual. Para os homens, é preciso ir a delegacias comuns, o que já pode ser um obstáculo importante para denunciar. Até mesmo conversar sobre o assunto com um profissional de saúde mental é difícil para eles.
Transtorno de estresse pós-traumático, agressividade, depressão, alcoolismo e abuso de substâncias, baixo desempenho na escola ou no trabalho, dificuldades nos relacionamentos íntimos e suicídio são consequências comuns de quem sofre esse tipo de violência. Também não é incomum que homens abusados sexualmente na infância se tornem perpetradores de outras violências mais tarde.
Neste Novembro Azul, além de convencer os homens a vencer o preconceito e fazer o exame para prevenção do câncer de próstata, precisamos incentivá-los a buscar ajuda e assumir suas vulnerabilidades. Noções equivocadas sobre masculinidade, como o velho clichê do "homem não chora", só fazem com que os homens assumam mais comportamentos de risco e tenham uma expectativa de vida mais baixa. O presidente chamar de "maricas" quem tem medo da covid é a prova concreta dessa distorção de pensamento, dessa masculinidade desajustada e fora do lugar em pleno século 21.
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