Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
E para você, "está tudo bem não estar bem", como para Naomi Osaka?
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A japonesa Naomi Osaka, 23, segunda melhor tenista do mundo e uma das favoritas à medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio, foi eliminada nesta terça (27) da competição.
Responsável por acender a pira olímpica durante a cerimônia de abertura dos Jogos do Japão, a atleta era uma das grandes estrelas de seu país. Mas seu desempenho na quadra foi abaixo do esperado, o que muito provavelmente está associado aos problemas de saúde mental que a tenista vem enfrentando. No final de maio, ao abandonar o torneio de Roland Garros, na França, Naomi admitiu que luta contra um quadro de depressão desde 2018 e que precisava cuidar da sua saúde mental naquele momento, pois sofria de cansaço e esgotamento.
A capa da revista Time, no começo de julho, trouxe a tenista japonesa junto com a frase "It's ok not to be ok" (tudo bem não estar bem), o que pode estar apontando para um novo rumo nas ideias sobre o pensamento e o funcionamento humanos no século 21.
O movimento vai na contramão do pensamento positivo hegemônico que afirma, de maneira simplificada, que o importante é você estar sempre bem, enxergando a vida de maneira otimista e tentando melhorar cada vez mais. A questão é que essa cobrança por "estar e parecer sempre bem" pode deixar muita gente pior, ou seja, colocar uma pressão extra e permanente sobre nossa existência. Essa mudança de perspectiva é tema de uma recente matéria do jornal espanhol El País.
Empatia e privacidade
Em seu depoimento em primeira pessoa à revista Time, Naomi conta que se recusou a participar de conferências de imprensa em Roland Garros —obrigatórias para todos os tenistas, o que gerou um desentendimento com a organização— pois se sentia exposta o tempo todo nessas entrevistas. Ela, que se considera tímida e vem enfrentando fases difíceis por conta da depressão, pede um pouco mais de empatia e privacidade para sua vida pessoal e sua saúde mental.
O que Naomi relata, jogando luz sobre a importância da saúde mental, não é uma novidade pandêmica, como muitos imaginam. Esse foco em como a pessoa se sente e como lida com suas emoções já vinha ocupando um espaço considerável em nossa sociedade na última década. Com a covid-19 e a mudança abrupta de nossa rotina, o tema talvez tenha ficado ainda em maior evidência.
Sociedade do cansaço
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, radicado na Alemanha, em seu livro "Sociedade do Cansaço" (2010), já apontava para essa encruzilhada da humanidade. Somos cobrados, por nós mesmos, a estarmos sempre bem, desempenhando atividades cada vez mais complexas, com um altíssimo nível de performance. O preço caríssimo pago por esse modo de funcionamento 2.0 pode ser o esgotamento mental e o adoecimento psíquico. Será que vale a pena?
Nesse sentido, o discurso de Naomi, pode nos ajudar a rever e repensar nossa postura diante da vida.
Entender que "tudo bem não estar bem" e que a melhor forma de a gente lidar com isso é poder reservar um tempo para nós mesmos, falar sem tabus sobre nossas dificuldades e pedir ajuda quando sentir que precisamos pode ser um caminho.
E, quem sabe, enterrarmos de vez esse discurso que vencedor é quem está 100% o tempo todo, não importando o preço que se paga por isso, jogo após jogo, projeto após projeto, relação após relação. Será que vencer não significa que, de vez em quando, todos precisamos parar, adiar, repensar e olhar para dentro de nós mesmos para medir como a gente está se sentindo? A vida pode ficar bem mais fácil!
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