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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como o Instagram pode impactar a autoestima e a saúde mental das garotas

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

22/09/2021 04h00

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Um dos assuntos mais comentados na última semana no mundo do comportamento e das tecnologias foram os estudos internos do Facebook "vazados" pelo jornal norte-americano "The Wall Street Journal", em que a maior rede social do mundo reconheceria efeitos negativos do Instagram (que faz parte do grupo) na saúde mental dos jovens, principalmente das garotas adolescentes.

A reportagem faz parte da série investigativa "Os Arquivos do Facebook", em que o jornal mostra a distância que parece existir entre o discurso público do Facebook e a realidade de dados e relatórios que a rede possui.

Insatisfação com o corpo

O assunto também foi tema de matéria no "El País". De acordo com os documentos, o Facebook teria realizado estudos nos últimos anos sobre possíveis efeitos "tóxicos" do Instagram sobre seus usuários. Os adolescentes apareceram como grupo mais sensível. Quase um terço das garotas disse que o Instagram piora a insatisfação com seus corpos, o que revela um grande impacto da rede sobre a autoestima dessas jovens.

O tema é delicado, já que, segundo o "The Wall Street Journal", 40% dos usuários do Instagram nos EUA têm menos de 22 anos. Outro estudo interno feito com jovens norte-americanas e britânicas mostrou que quase a metade delas começou a se sentir menos atraente após usar o Instagram.

E aqui uma pausa nos dados para analisar um pouco a questão das imagens e da popularidade nas redes sociais como fator de pressão sobre a autoestima e, por tabela, sobre a saúde mental dos jovens.

Identidade construída nas redes

O adolescente, em processo de busca de valores e da sua identidade, se espelha muito no outro, no grupo social em que está inserido, procura informações e padrões de comportamentos necessários para essa construção. No tempo antes das redes, essa identificação acontecia na escola, na rua, no shopping. Com o avanço do uso das redes sociais —e o Instagram não é a única plataforma com esse efeito—, o que se vê nelas tem um peso cada vez maior na construção dessa identidade.

Ao fazer comparações com os outros (influenciadores famosos ou amigos quase anônimos), o que aparece publicado e o que se apreende das imagens e postagens pode pesar na forma de se enxergar e de se perceber no mundo.

Ao não relativizar que nas publicações alheias há edição das imagens, uso de filtros ou a escolha "calculada" do melhor momento e da melhor pose, o que o jovem vê pode se tornar tóxico para quem vive um momento sensível do ponto de vista de autoestima

As críticas e o cyberbullying que podem chegar de forma quase imediata e, às vezes de maneira bastante violenta, também podem influenciar as emoções desses jovens, muitas vezes inseguros e inexperientes em relação ao seu corpo e às transformações que ele sofre.

Impacto maior entre as garotas

E não é à toa que esse impacto é desigualmente maior para as meninas, já que as cobranças por um modelo idealizado de beleza e aparência são muito mais pesadas sobre as mulheres. Não que eles não sofram! Dados desses estudos internos revelam que 14% dos garotos também se sentem pior quanto à sua autoestima quando ficam no Instagram.

Talvez o mecanismo mais perverso de toda essa situação é que, muitas vezes, mesmo reconhecendo os efeitos nocivos das redes sociais sobre sua saúde mental, os jovens têm uma tremenda dificuldade em conseguir se desligar das telas. É como se a tentativa de alívio do desconforto estivesse no próprio uso da plataforma. "Quem sabe vou conseguir aparecer melhor, ter mais likes e ser mais reconhecida pelos meus seguidores?"

Alívio da dor emocional

Como em outros processos com características de dependência, a busca pela saída ou pelo alívio de uma dor tende a começar pelo lugar errado, ou seja, pelo uso ainda mais frequente e intenso daquilo que provoca o sofrimento inicial. A construção de uma crítica sobre a causa real do desconforto e a busca por uma solução efetiva podem levar mais tempo e necessitar de uma ajuda externa.

Lógico que há efeitos positivos no uso das redes —e eles são inúmeros. Aproximar pessoas, dividir dores, desfazer fake news, combater preconceitos e mostrar caminhos mais saudáveis são apenas algumas dessas possibilidades. Mas se as redes sociais pudessem dividir de forma mais transparente seus dados e estudos com especialistas e com a sociedade, talvez ficasse mais fácil criar um caminho menos tortuoso e doloroso para muitos dos adolescentes que tanto tempo passam nelas.

No meu site doutorjairo.uol.com.br/, você encontra mais informações sobre os impactos das tecnologias no comportamento jovem.