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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como anda sua saúde mental na reta final da eleição?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

01/10/2022 04h00

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Se você anda meio para baixo e desconfia que isso pode ter a ver com as baixarias que andam rolando em níveis nunca antes imaginados às vésperas de uma eleição presidencial, pode apostar que:

1 - Você não está sozinho nem na sua suspeita, nem no mal-estar que parece estacionado no ar;

2 - Embora não haja ainda dados específicos sobre saúde mental e esse final de campanha do primeiro turno (pelo menos eu desconheço), assino embaixo que os constrangimentos dos últimos debates, as fake news que não param de brotar nas redes, os absurdos ventilados aos quatro cantos e a violência política podem minar a resistência emocional da maior parte dos cidadãos.

Uma pesquisa do Datafolha divulgada na última sexta-feira (30) parece trazer alguns indícios de que a relação entre a votação e sua saúde mental fazem sentido: 53% dos brasileiros admitiram ter mudado de comportamento nas redes sociais por motivos políticos.

Já quase a metade dos eleitores deixou de falar com amigos e família sobre política para evitar discussões nos últimos meses. Esses índices variaram pouco em relação ao levantamento anterior, realizado em julho.

Silêncio político

O "silêncio político" é mais marcado entre mulheres, pessoas mais jovens, mais escolarizadas e mais ricas. Outros 35% se sentiram menos à vontade nos últimos dias para declarar seu voto.

Violência política, polarização e radicalizações podem estar por trás desses temores: 14% afirmaram já ter sido ameaçados verbalmente por suas posições políticas e 5% sofreram ameaças físicas. O instituto ouviu 6.800 pessoas de 16 anos ou mais em 332 cidades de terça (27) a quinta (29), em pesquisa contratada pela Folha e pela TV Globo.

Agora, veja bem, se você tem que deixar de dizer o que pensa nas suas redes (que são seu espaço de expressão pessoal), se evita discutir o tema com amigos e familiares por medo das "diferenças", se precisa silenciar em diversas situações sociais ou se já sofreu ameaças e foi exposto a violências por motivações políticas ou ideológicas, você não pode estar bem! Haja resiliência para lidar com tantas pressões, que podem vir de todos os lados.

Diálogo x desqualificação

Em boa medida, essa cultura de polarização extrema e violência ganhou escala com as táticas, estratégias e procedimentos do atual mandatário e de suas redes. Em vez de encarar e discutir diferenças, caminhos e possibilidades (a base de uma democracia), opta-se, via de regra, pela desqualificação do interlocutor, que passa a ser um alvo a ser perseguido e combatido. Será que não existe uma forma muito mais saudável de exercer e construir poder e política?

Outro dado interessante do Datafolha sugere uma certa afinidade política dentro das famílias. Dois terços dos entrevistados dizem que todos ou a maioria dos parentes votarão no mesmo candidato a presidente que eles (o índice sobre para 74% entre os lulistas e 75% entre bolsonaristas). Ou seja, se a "barra" pesar ainda mais fora de casa, é no centro da família que a maioria dos eleitores talvez encontre paz, amparo e suporte. Mas, claro, esse não é o cenário para as famílias mais "divididas".

Vença Lula ou Bolsonaro, havendo segundo turno ou não, vai continuar a existir uma ruptura, um tensionamento ainda maior das relações, uma ferida social e emocional a ser resolvida nos próximos meses ou até anos. E dependerá de cada um de nós o rumo dessa história.

Se pautada pela raiva, pelo discurso de ódio e pela desqualificação de quem pensa diferente, a cicatrização pode ser demorada e feia. Se a opção for diálogo, construção de pontos de contato e tolerância, o resultado pode ser muito menos sombrio. E a nossa saúde mental, por tabela, só vai agradecer. Bom voto e respeito acima de tudo e de todos!