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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O TDAH está sendo banalizado nas redes sociais?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

24/10/2022 04h00

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Será que existe hoje uma banalização do termo TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade) nas redes sociais?

Tendo em vista uma série de posts que "viralizaram" nas últimas semanas e meses, parece que muita gente que se esquece de algo de vez em quando ou que é um pouco mais desorganizada se identificou com o transtorno, o que incomoda bastante quem realmente sofre com o diagnóstico.

De forma semelhante ao que acontece com os termos "bipolar" ou "esquizofrênico" nos últimos anos (quem oscila de humor passou a ser chamado de bipolar, e quem tem comportamentos mais peculiares virou esquizofrênico), parece que o TDAH é a bola da vez no campo da generalização indevida de diagnósticos em saúde mental.

O que acontece, via de regra, nestas popularizações de um termo é que se pega uma ou outra característica de um indivíduo, que pode lembrar um sintoma isolado de um desses distúrbios, e se distorce seu significado.

Esquece-se, portanto, que TDAH, bipolaridade ou esquizofrenia são diagnósticos psiquiátricos complexos, com múltiplos sintomas, que têm frequência, intensidade e impactos importantes na vida de um indivíduo

TDAH na vida real

O TDAH real é um transtorno caracterizado por dificuldade em manter a atenção e a concentração, inquietação psicomotora (hiperatividade) e impulsividade. Ele acomete de 3% a 5% das crianças e adolescentes e pode seguir impactando metade delas na vida adulta. O diagnóstico não é simples e exige uma avaliação médica cuidadosa.

As causas podem ser múltiplas e são ainda pouco conhecidas. O transtorno pode trazer dificuldades na escola e nos relacionamentos. Meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as garotas, e ambos enfrentam igualmente a desatenção. Na adolescência, alterações de comportamento podem acontecer, marcados por uma maior dificuldade do jovem em lidar com regras e limites.

Na vida adulta, a hiperatividade diminui, mas as dificuldades de atenção podem se manter. Assim, as principais manifestações são esquecimento frequente, inquietação, dificuldade em manter foco e atenção no trabalho e estudos, problemas nos relacionamentos interpessoais, impulsividade e maior risco para depressão, ansiedade e abuso de álcool e drogas.

Como em qualquer transtorno de comportamento, existe uma variação muito grande da manifestação e intensidade dos sintomas. Assim, algumas crianças podem ter um impacto mais discreto do TDAH, enquanto outras podem ter apresentações mais severas.

Não é piada!

Se, de um lado, as redes permitem que pessoas que se identificam com os sintomas possam conhecer mais a fundo os transtornos e até entrar em grupos específicos de discussão e de ajuda, o risco é que elas acabem levando a distorções e amplificações pouco cuidadosas dos termos, o que pode mais atrapalhar do que ajudar, ao reforçar estigmas, exclusões e preconceitos.

Mas, nas redes sociais, na era da comunicação horizontal e das "bolhas" de informação, onde a balança do nível de influência entre leigos e especialistas fica cada vez mais equilibrada, esse tipo de uso indevido de termos e de diagnósticos vai se tornando mais comum, em qualquer área do conhecimento.

No Twitter, na última semana, pegando só dois dos vários exemplos, @vicentbernardo e @belyeuu se mostraram incomodados com a banalização do termo TDAH e listaram o conjunto de sintomas possíveis desse transtorno. "Não é piada pra todo mundo ficar falando que tem", protestou um deles.

No Brasil, estima-se existir cerca de 2 milhões de adultos com TDAH, sendo que a maioria deles nunca passou por uma avaliação.

Abaixo, trago alguns dos sintomas mais comuns em adultos, mas o recado que fica é que não dá para fazer diagnóstico só vendo listinha de sintomas, mas sim consultando um especialista. É isso!

  • Distrair-se com facilidade
  • Tomar decisões de forma impulsiva
  • Começar tarefas sem ler instruções
  • Dificuldade em seguir a ordem esperada para atividades
  • Organização precária
  • Procrastinação
  • Faltar em compromissos
  • Estar sempre com pressa
  • Sensação permanente de inquietação
  • Ser impaciente com tudo e todos
  • Dificuldade em nomear e expressar sentimentos e afetos
  • Não manter foco e atenção em momentos de lazer
  • Não conseguir interromper ações quando deveria