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Será que o cérebro de seu filho envelheceu além do normal na pandemia?
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Quem tem filhos adolescentes sabe o quanto os dois anos de pandemia foram sofridos e impactaram a rotina, o humor e a saúde mental deles. Mas, além de todas essas vivências adversas, será que o isolamento social poderia ter "envelhecido" o cérebro dos jovens de uma forma mais acentuada? Um novo estudo, publicado na revista Biological Psychiatry: Global Open Science, sugere que sim!
O nosso sistema nervoso central é um tecido plástico e dinâmico que vive se modificando e se reorganizando, processo que acontece de forma ainda mais intensa na infância e na adolescência. Algumas das mudanças esperadas nessa fase da vida são o crescimento de áreas relacionadas ao controle das emoções e no acesso à memória (amígdala e hipocampo) e uma discreta redução da espessura do córtex cerebral.
Ao comparar ressonâncias magnéticas de 81 jovens antes da pandemia com a de outros 82 adolescentes que enfrentaram o distanciamento social (pareados por sexo, idade, fase da puberdade e status socioeconômico), os cientistas perceberam que as mudanças aconteceram de forma mais acelerada no segundo grupo.
Experiências traumáticas
Pesquisas anteriores já haviam mostrado que a exposição de crianças e adolescentes a experiências traumáticas como violência doméstica, negligência e famílias disfuncionais está associada não apenas a maior ocorrência de transtornos mentais, como ansiedade e depressão, mas também a impactos negativos no desenvolvimento neurológico, o que poderia levar a uma maturação cerebral mais precoce, com risco de um processo de envelhecimento acelerado desse órgão tão nobre.
As mudanças de rotina, o isolamento social, a distância da escola e dos amigos, tudo isso pode ter sido "interpretado" pelos jovens como adversidade. Para piorar, crise financeira, o medo, a perda de familiares e o aumento do estresse e da violência em casa, entre outras questões, podem ter ampliado ainda mais essa mensagem de risco que ajudou a "envelhecer" de forma mais precoce o cérebro dos jovens.
Até esse ponto não se pode afirmar que os índices elevados de transtornos mentais observados nos jovens nesse período de pandemia têm relação direta com as mudanças cerebrais. Mas, como esse é um órgão extremamente plástico e adaptável, pode-se imaginar que as dificuldades emocionais podem ser tanto a causa como a consequência de eventuais alterações nos circuitos neuronais e até mesmo nas alterações anatômicas.
E o futuro?
É ainda cedo para saber se as mudanças e esse envelhecimento encontrados são transitórios e poderão ser amenizados com a retomada das atividades habituais, ou se essas alterações serão permanentes e vão marcar de forma única esses adolescentes.
Assim, mais estudos que acompanham esses jovens são absolutamente necessários. Talvez, só o futuro possa nos mostrar o quanto um evento estressor em escala global pode impactar no longo prazo a saúde mental e o funcionamento cerebral de toda uma geração.
O que pais e professores podem fazer?
Ouvir, acolher, prestar atenção ao sofrimento emocional e às mudanças de comportamento dos jovens, tendo uma certa flexibilidade para dar respostas. Assim, por exemplo, para minimizar eventuais dificuldades de aprendizagem, as escolas poderiam criar processos de apoio e de avaliação distintos dos já usados ou, ainda, pais podem buscar a ajuda especializada de uma maneira mais ágil, evitando o agravamento de sintomas ou a cristalização de uma dificuldade de adaptação que vem se repetindo.
O que traz um certo alívio é saber que, se a adversidade e o trauma podem marcar negativamente o nosso cérebro e a nossa saúde mental, o inverso também pode acontecer. Assim, afeto, carinho, cuidado e atenção podem ter um efeito protetor no bem-estar e na autoestima dos mais novos, mesmo que eles estejam diferentes de antes da pandemia. Aliás, e nós, também não estamos?
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