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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Divórcios caem no Brasil: tendência ou retrato do momento?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

21/12/2022 04h00

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O número de divórcios no Brasil apresentou uma queda de 10% entre janeiro e novembro de 2022, quando comparado ao mesmo período de 2021. Os dados do Colégio Notarial do Brasil, entidade com informações dos quase 8.400 Cartórios de Notas do país, foram divulgados pela Folha de S. Paulo na última semana.

  • O número de 68.703 divórcios é o menor registro desde 2018.

O aumento dos divórcios foi um fenômeno percebido durante a pandemia e pode ter sido um reflexo direto do isolamento social e da consequente intensificação da convivência doméstica e dos conflitos de muitos casais.

Uma análise mais macroscópica das pesquisas de comportamento no período mostra, por exemplo, que ficar mais tempo confinado em casa deteriorou a saúde mental das pessoas, aumentou o abuso de álcool e piorou os números da violência doméstica. Esses aspectos combinados podem ter contribuído para o recorde de divórcios.

Na intimidade dos lares

Em um olhar mais detalhado da intimidade dos lares, o que se pode observar é que casais que já não vinham bem e não souberam se reinventar tiveram seus relacionamentos profundamente impactados pelo distanciamento social, pelo dia a dia 100% juntos e pela impossibilidade de "arejar" suas emoções com o trabalho externo e com os encontros com amigos e familiares. A vida passou a acontecer quase que exclusivamente dentro de casa, o tempo todo com a cara-metade. Daí, para "azedar" o que já não funcionava foi um pulo!

Muito tem se falado do impacto emocional que a pandemia trouxe (e continua a trazer) para muita gente. Em um momento de excepcionalidade, de tensão, de medo, de insegurança sanitária e social, as pessoas podem decidir focar mais nelas mesmas e no que é absolutamente prioritário. O que importa é tentar sobreviver e ficar bem.

Com esse enfoque, eventuais questões que eram deixadas de lado nos relacionamentos podem ganhar contornos mais agudos. O que era porto seguro pode se transformar em centro das tormentas. E a esperança de dias melhores, sem o outro, pode se tornar mais concreta.

Fim da pandemia

O fenômeno não foi exclusivo do Brasil. À medida que a pandemia avançava do Oriente para o Ocidente, diversos países experimentam recordes de separações e divórcios.

Uma das hipóteses para explicar a queda nos divórcios em 2022 é que, com o alívio das restrições sociais, com a retomada das rotinas anteriores e com a superação de conflitos relacionais nessa fase tão difícil, o número de casais que decidiram seguir juntos aumentou.

Agora, é esperar os próximos anos para saber se essa queda nos divórcios é uma tendência que se consolida por aqui ou se ela é apenas o reflexo da redução momentânea de um "estoque" de relacionamentos que estavam "falidos" e tiveram seu fim antecipado pela pandemia, mas que podem voltar a crescer em função do fim natural de muitos casamentos, de todas as transformações que a sociedade atravessa e das diversas outras formas e possibilidades de estar (ou não) em um relacionamento em pleno século XXI. Qual seu palpite?