Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
As unhas grandes de Damares: engano, ato falho ou estratégia?
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Na última semana, a ex-ministra e agora senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) curtiu uma publicação no Twitter contrária a uma eventual candidatura da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro à Presidência da República.
Damares disse ao UOL que tudo não passou de um mal-entendido e se justificou dizendo que tem as "unhas muito grandes". Segundo ela, na hora de passar o dedo na tela do celular, se atrapalhou. Ela ainda afirmou que nunca curtiria nada contra Michelle, que é como uma filha.
Ato falho?
Mas será que Damares apenas escorregou o dedo sem querer mesmo ou, sem se dar conta, cometeu o que os psicanalistas chamam de "ato falho"? Na teoria de Freud, de forma simplificada, o "ato falho" é umas das formas do nosso inconsciente se manifestar.
Ele é um equívoco na fala, na memória ou em um ato físico que acaba deixando escapar um desejo que não pode ser confessado.
Os chistes (brincadeiras, jogos de palavra de duplo sentido) e os sonhos seriam outras janelas possíveis de manifestação desses desejos mais ocultos.
Trocando em miúdos, será que lá no fundo o que Damares quis dizer é que, de fato, apesar de considerar a ex-primeira dama uma filha, ela não gostou muita da ideia de Michelle ser uma eventual postulante ao cargo de presidente nas próximas eleições?
E, vamos combinar, um desejo desses, talvez inconsciente, talvez não, não seria tão fora de propósito assim, afinal, Damares foi eleita ao Senado nas últimas eleições, com 714.562 votos (44,98% dos votos válidos) pelo Distrito Federal, e poderia se considerar uma opção promissora de candidatura de direita ao posto.
Curtida como estratégia?
Mas, em se tratando de política, sobretudo no Brasil, onde é relativamente frequente que intenção e dissimulação andem de mãos dadas, não seria de se estranhar que a curtida no Twitter não tenha sido exatamente uma gafe e, sim, uma estratégia para deixar claro uma opinião contrária à construção de um eventual projeto mais ambicioso para Michelle. Amigos, amigos, negócios à parte, não?
"Atos falhos" existem, possivelmente, desde que o mundo é mundo. Freud e os psicanalistas, no final do século XIX e início do século XX, identificaram e teorizaram essa possível porta de acesso aos desejos inconscientes, mas não há como negar que a tecnologia ampliou e potencializou o risco de qualquer um de nós de cometer e expressar esses atos. É um dedo que escorrega, uma frase trocada ("ato falho" por "ato falo"), uma mensagem no WhatsApp enviado para a pessoa errada, enfim, o "não dito" pode ficar pelo "dito" com uma frequência espantosa.
Com a ex-ministra não haveria de ser diferente. Por que ela não poderia ter sido "trolada" pelas suas unhas grandes que se atrapalharam ao manipular a tela sensível de um celular tecnológico?
Claro que poderia! Mas em se tratando de Damares, personalidade complexa, envolta em sucessivas polêmicas (menino veste azul e menina veste rosa, cartilha holandesa que ensinava pais a massagear sexualmente as crianças, meninas vítimas de abuso sexual em Marajó por não usar calcinha, entre outras pérolas), sempre fica aquela desconfiança de que tudo que é dito, escrito ou gravado pode estar expressando intencionalmente uma ideologia, um objetivo ou uma forma muito particular de ver o mundo.
Já, para nós, fica a dica que o "ops, errei" em tempos de postagens e curtidas digitais, pode, no fundo, deixar escapar um desejo que a gente ainda não tinha se dado conta ou não queria admitir. Concorda?
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.