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Influenciadores podem elevar risco de gravidez indesejada, mostra pesquisa
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Buscar conselhos sobre contracepção com influenciadores digitais pode aumentar o risco de gestações indesejadas entre as garotas, de acordo com um novo estudo publicado no último mês no periódico Health Communication.
Em um contexto em que os adolescentes buscam se informar cada vez mais sobre saúde sexual nas redes sociais com influenciadores com alto poder de persuasão, os pesquisadores da Universidade de Delaware (EUA) avaliaram 50 vlogs do YouTube que discutiram controle de gravidez entre 2019 a 2021.
Os vídeos analisados, com influenciadores e subcelebridades que tinham de 20 mil a 2 milhões de seguidores, mostram que existe uma tendência a encorajar a interrupção do uso de métodos hormonais em detrimento de conteúdos que estimulem a contracepção e o sexo seguro.
- Em 92% dos vídeos as influenciadoras contavam que utilizavam ou já tinham utilizado métodos hormonais, mas 74% delas tinham interrompido o seu uso ou planejavam fazê-lo.
Métodos naturais
As principais causas para interrupção do uso foram o desejo de ser mais natural e de melhorar a saúde mental, embora não haja evidência científica que métodos hormonais causem depressão ou ansiedade.
- 40% das influenciadoras usavam métodos não hormonais que, apesar de mais baratos e com menos efeitos colaterais, exigem um cuidado muito maior, ainda assim com risco importante de falha de proteção.
Controle rigoroso do ciclo, cálculo do período fértil, medidas diárias de temperatura corporal basal e da viscosidade do muco cervical, entre outros, podem levar a um risco maior de gravidez indesejada.
Trabalhos anteriores já mostraram que influenciadores digitais podem ter maior impacto nos comportamentos e atitudes dos jovens do que celebridades tradicionais ou profissionais de saúde, pela maior facilidade de acesso e pela maior proximidade com o universo social e emocional dos adolescentes. Com informações pessoais compartilhadas, essas influenciadoras acabam ocupando o lugar de amigas ou irmãs mais velhas e experientes.
Embora o estudo atual seja pequeno e não avalie o impacto causado pelos conteúdos nas seguidoras, ele indica que esses vlogs são muito importantes hoje para criar proximidade, redes de apoio e identificação, e que seria importante "capacitar" essas influenciadoras, e encorajar as adolescentes a serem mais críticas e a checar melhor as informações obtidas nos vídeos.
Semana de Prevenção da Gravidez na Adolescência
Por falar em gravidez nessa faixa etária, é bom lembrar que a primeira semana de fevereiro é considerada, desde a lei de 2019, a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Embora a frequência da gestação na adolescência no Brasil venha caindo desde 2001, ela ainda é uma questão social e de saúde pública muito grande. De acordo com números do DataSUS, no intervalo de 2015 a 2019, houve uma queda de quase um terço dos casos.
Dados divulgados essa semana pela Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), pela Sociedade Mineira de Pediatria e pela Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência (Sogia) mostram que:
- 1 a cada 7 crianças que nascem hoje no Brasil tem mãe adolescente;
- 1043 adolescentes se tornam mães no Brasil a cada dia;
- 44 bebês nascem a cada hora, filhos de mães adolescentes (dois deles com mães com idade entre 10 e 14 anos).
Esse retrato tem um recorte desigual no país. Enquanto nas classes média e alta a gestação na adolescência, via de regra, é uma exceção, nas periferias esses índices são alarmantes.
Para garotas mais pobres, a maternidade pode se tornar um projeto de vida, uma tentativa de tentar recompor um núcleo familiar em que a garota tenha um papel definido. Mas, em geral, não é isso que acontece, e elas acabam tendo que criar seus filhos sozinhas, tensionando ainda mais uma rede de apoio que já era precária
Sabe-se que a gestação precoce tem impactos importantes na vida social e emocional das garotas, com maior risco de bullying, abandono escolar, transtornos de ansiedade e depressão e alta reincidência de uma nova gestação ainda na adolescência.
Vácuo na educação sexual
Existe um vácuo de políticas e projetos de sexualidade para os jovens nos últimos anos, principalmente no governo anterior, que enxergava, de forma absolutamente ideológica e distorcida, o trabalho de educação sexual nas escolas como um incentivo ao sexo.
A questão central é que o começo da vida sexual acontece cedo no Brasil e em boa parte do mundo ocidental, e que quanto mais informados sobre o tema e quanto melhor tenham discutido saúde sexual com seus pares, maiores as chances dos jovens se protegerem e se prevenirem.
Seria importante que esse governo que agora se inicia traçasse uma estratégia efetiva de redução das taxas de gravidez na adolescência, a exemplo do que foi feito no Reino Unido.
Por lá, o projeto "Dez anos para reduzir a gravidez na adolescência", entre o ano de 2000 e o ano de 2010, cortou pela metade a taxa de gestação na adolescência, basicamente investindo no tripé:
- informar melhor (com projetos bem estruturados de educação sexual);
- facilitar o acesso das jovens aos insumos para prevenção
- investir em construção de projetos de vida e melhoria das condições sociais das camadas mais vulneráveis da população.
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