Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'Eu me masturbei 639 vezes em um ano. Há riscos? Tem um número saudável?'
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Uma dúvida que recebi na última semana me chamou a atenção, menos pelo tema bastante recorrente, e mais pelo rigor quase matemático das informações. Compartilho abaixo um resumo da mensagem, sempre preservando a identidade do interlocutor:
"Tenho 23 anos e não namoro. Em 2022, eu me masturbei 639 vezes. Sei com precisão porque toda vez que me masturbava, eu anotava. Esse ano já foram 76 vezes, e esse número só está baixo pois desde o dia 30 de janeiro estou em abstinência. Existe algum risco para mim no futuro, como ejaculação precoce, retardada ou outros? Se possível me fale uma frequência saudável."
A frequência e os impactos da masturbação na saúde são preocupações bastante comuns entre adolescentes e adultos jovens. Ok, então, nosso leitor estar preocupado com esse assunto. Mas por que ele precisa saber esse número com tamanha precisão? No meu entender, mais do que o ritmo, a contagem diária e a anotação metódica é que devem ser os focos da nossa resposta.
Para um garoto, algumas informações podem ser importantes nessa fase da vida: a data que ele beijou pela primeira vez, o recorde de "ficadas" em uma balada, o máximo de vezes que chegou ao orgasmo no sexo, o número de masturbações em um único dia etc. Parece que esses dados funcionam como marcos pessoais e servem, também, como base de comparação com o grupo. Enfim, dados que marcam uma história sexual!
Desejo ou imposição?
Anotar todas as vezes que beijamos, transamos, nos masturbamos, ejaculamos, entre outros aspectos da nossa sexualidade, pode revelar uma necessidade impositiva de tentar controlar tudo o tempo todo. Ou seja, parece que temos que registrar para garantir que o ato aconteceu mesmo e que podemos nos lembrar dele. Aqui, o exagero não está na masturbação em si, e sim na contagem.
Anotar de forma compulsiva pode ser sintoma de um quadro obsessivo, em que o ritual (contar repetidamente) busca aliviar, de forma inconsciente, um pensamento que incomoda ou uma emoção que assusta como, por exemplo, o prazer
Será que nosso leitor percebe que pode estar preso em uma "armadilha" das suas próprias emoções, em que o número de vezes que ele se masturba é menos importante do que a necessidade de contar e anotar?
Talvez, o que ele tenha que controlar não é o desejo e, sim, o cálculo sistemático das suas práticas.
Frequência ideal?
Em relação à resposta objetiva, não existe uma frequência ideal de masturbação. O importante é que a pessoa se relacione bem com seu corpo e possa vivenciar seu prazer da forma que julgar melhor.
Existem quadros (raros) em que a pessoa sente que está passando do ponto e se percebe dependente de masturbação. Mas essa não é a regra, é uma situação de exceção. Nesses casos, é importante que o indivíduo desenvolva técnicas de controle (por exemplo, acessar menos conteúdos eróticos) ou busque orientação médica ou psicológica.
Se a gente for voltar rapidamente aos números, nosso leitor teve uma média de 1,75 masturbação por dia em 2022, e cerca de 2,5 vezes por dia no mês de janeiro desse ano.
Não dá para dizer que é muito ou pouco, pode ser o normal para ele nessa fase da vida. E é lógico que essa frequência muda na medida que envelhecemos, temos mais compromissos de trabalho e estudo, criamos parcerias mais estáveis e vínculos amorosos, e por aí vai.
Masturbação não faz mal para a saúde. Não há risco de ejaculação retardada, ejaculação precoce ou dificuldade de ereção relacionadas à prática. Essas eventuais disfunções sexuais, que podem aparecer na vida de qualquer jovem, em geral, têm uma causa emocional
Uma exploração saudável e prazerosa do próprio corpo contribui, via de regra, para experiências sexuais mais satisfatórias no futuro, e isso passa por viver uma relação mais tranquila com a masturbação, o que no caso do nosso leitor significa focar menos no controle e nas anotações, e mais nas vivências de desejo e prazer.
Assim, o que ele precisa nesse momento provavelmente não é a abstinência, uma medida excessiva e difícil de ser seguida no longo prazo. O que pode fazer toda a diferença é aprender a deixar de lado o rigor dos registros, e curtir as suas descobertas de forma menos ansiosa. Se estiver difícil resolver essa questão por conta própria, é sempre legal poder contar com a ajuda de um profissional da saúde. Boa sorte!
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