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Redes sociais podem provocar contágio de violência entre os jovens?
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Nas últimas semanas, sucessivos episódios de violência nas escolas sugerem um possível "efeito contágio" entre os jovens. Como essa relação acontece? O que poderia ser feito para minimizar esse risco?
Efeito contágio é um termo que tenta mostrar como um mesmo padrão de comportamento (violência, suicídio, autoagressão, entre outros) pode se repetir em diversos locais e situações em um curto intervalo de tempo, por influência de um determinado veículo, no caso as mídias tradicionais ou as redes sociais.
Há muitos anos vem se discutindo como o comportamento dos jovens pode ser impactado pelos conteúdos que eles acessam em seus computadores e celulares. Trabalhos científicos mostraram, por exemplo, que o consumo maciço das redes pode predispor os jovens, sobretudo as garotas, a um maior risco de quadros de transtornos alimentares, ansiedade, sintomas depressivos, piora da autoestima, entre outras questões de saúde mental. A violência poderia seguir o mesmo roteiro, principalmente entre os garotos?
Impactos na percepção
Como a internet, principalmente as redes sociais, se tornou a grande fonte de informação e interlocução das gerações mais novas, o que acontece dentro desse imenso espaço de interações sociais influencia as percepções que os jovens têm da vida, das emoções e dos seus afetos.
É o local onde eles se enxergam e se espelham nos outros para tentar entender seu lugar, seu papel e seu jeito de ser no mundo. O que acontece nas redes molda a forma do jovem se perceber, para o bem e para o mal. Essa relação cada vez mais intensa com as telas e as tecnologias não vai arrefecer, pelo contrário, só deve aumentar no futuro. Um artigo recente da psicóloga e colunista da Folha de S.Paulo Vera Iaconelli explica muito bem esse fenômeno.
Exemplos não faltam. Recentemente a gente falou aqui sobre uma espécie de efeito contágio de um quadro de espasmos coletivos que teria começado em uma "trend" no TikTok. Também comentamos em outro texto recente que influenciadoras jovens, ao condenar métodos contraceptivos hormonais e exaltar "métodos naturais" de prevenção da gravidez, poderiam aumentar o risco de gestação indesejada entre adolescentes. São apenas algumas situações que mostram o poder que essas novas mídias têm sobre o comportamento e a tomada de decisão dos jovens.
Desafios e autoagressão
Há muito se fala dos impactos que séries que tratam do tema suicídio (e os ruídos que elas causam) poderiam ter no risco de os jovens atentarem contra a própria vida. O mesmo se dá com os "jogos" e desafios que, volta e meia, aparecem nas redes e que aumentariam o risco de autoagressão e de morte, ao incentivar práticas perigosas como asfixia, enforcamento, inalação de gases tóxicos, entre outras.
Por mais absurdo que pareça para os adultos alguém tentar se enforcar porque há um desafio rolando nas redes, uma parte dos jovens é mais "porosa" a esse tipo de influência. Pesa nessa equação o momento de vida que eles atravessam, o diálogo e acolhimento que têm em casa, a autoestima, a necessidade de se desafiar, de ser aceito e valorizado pelo grupo, e por aí vai.
Não é à toa que os especialistas recomendam moderação e limites claros na divulgação de imagens e textos sobre suicídio e de desafios perigosos para evitar uma glamorização dessas situações, que poderia "contagiar" os jovens. Nos episódios recentes de violência nas escolas a recomendação (acertadíssima a meu ver) foi a mesma.
O tropeço das plataformas
A questão é que conseguir o apoio das mídias tradicionais (menos consumida pelos jovens) para esse tipo de política tende a ser mais simples do que tentar conseguir um efeito semelhante nas redes sociais. As plataformas ainda têm dificuldade em localizar rapidamente essas trends e "bloquear" seu alastramento. Algumas delas nem enxergam essa questão como prioridade, acreditando que isso fere a liberdade de expressão dos usuários. Será?
Assim, para conseguir um impacto significativo na redução dos episódios de violência que temos assistido nas últimas semanas, seria muito importante implementar medidas e estratégias que vão além da revista na entrada dos estabelecimentos, do uso de câmeras, do apoio mais próximo da polícia e do uso de inteligência para identificar perfis de riscos.
Em primeiro lugar, escola, pais, autoridades e plataformas têm que trabalhar juntos na mesma direção. Ao identificar mudanças significativas de comportamento dos jovens, frases e postagens que dão margem a possíveis riscos, alarmes devem ser disparados para mostrar aos responsáveis a importância de algum tipo de intervenção imediata (avaliação real de risco, suporte psicológico, medidas legais cabíveis, entre outras possibilidades).
Sensibilização
Da mesma forma que os algoritmos das plataformas podem ser aprimorados para identificar sofrimento psíquico e comportamentos antissociais, os pais e educadores têm que ser sensibilizados para notar mudanças e não ter medo de buscar ajuda.
As estratégias de prevenção, incluindo um trabalho profilático para questões como racismo, homofobia e bullying, precisam ser aplicados em todos os níveis. Crianças e jovens têm que ser educados para uma cultura de paz e devem ser capacitados para entender, além dos benefícios, os riscos trazidos pelas redes sociais.
É importante que eles percebam desde cedo o que faz mal e o que faz bem, como identificar ofensas e agressões, como desmontar respostas que possam levar ao sofrimento e ao ódio, valorizando sempre o bem-estar e o respeito ao outro. Fácil? Bem longe disso! Mas existe hoje uma urgência em trabalhar essas questões. Mãos à obra!
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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