Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Os riscos que o 'Dr. TikTok' traz para sua saúde e uma breve despedida
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Será que uma plataforma digital como o TikTok pode ajudar ou atrapalhar a comunicação sobre saúde e sobre diagnósticos médicos? Faço essa pergunta no momento em que me preparo para uma despedida aqui do UOL.
Pois é, pessoal, foram tantos anos (na verdade, quase três décadas) por aqui que perdi a conta de quantos textos e vídeos produzi. E a ideia dessas colunas e artigos, que começaram ainda em 1993 na Folha de S.Paulo e, depois, migraram para o recém-lançado UOL, em 1996, sempre foi a de trazer informações atuais e descomplicadas sobre saúde, que ajudassem na prevenção e encurtassem o caminho até o diagnóstico correto e o tratamento adequado, quando necessário.
Mesmo sendo um médico escrevendo sobre saúde, sempre evitei cravar certezas diagnósticas e apontar possibilidades terapêuticas. O conceito sempre foi trazer informações, desfazer mitos e tabus e encorajar a busca por um profissional de saúde.
No contexto da saúde, a curadoria das informações é essencial para garantir que as pessoas não corram riscos desnecessários e que possam se cuidar melhor. Artigo do jornalista Josias de Souza publicado esta semana discute como a hiperdesinformação das redes dá forças para a imprensa. No meio de tantas informações desencontradas, as pessoas recorrem às mídias mais tradicionais para garantir a veracidade dos fatos.
Embora seja eu mesmo bastante assíduo na produção de conteúdo nas redes —e entendo que ela ofereça uma possibilidade rápida e única de conexão com outras pessoas que têm dúvidas e necessidades semelhantes—, não há como negar riscos. Há algumas semanas mostrei aqui em minha coluna como influenciadoras de métodos naturais de prevenção de gravidez poderiam expor as adolescentes a um maior risco de gravidez indesejada.
Quer mais exemplos? Esta semana, um estudo apresentado na conferência Digestive Disease Week, em Chicago (EUA), mostrou que 4 em cada 10 posts no TikTok sobre doenças hepáticas trazem informações erradas.
Um artigo recente do jornal The New York Times também discute como informações superficiais e testes rasos podem levar a uma grande confusão e ambivalência nos diagnósticos de condições de saúde mental, como autismo e déficit de atenção com hiperatividade, o que pode gerar angústia em quem acha que preenche critérios (e na verdade não preenche) e afastar quem realmente precisa das avaliações com especialistas.
E o que podemos fazer? Reforçar a importância da educação digital, ajudando as pessoas (sobretudo os mais jovens) na criação de filtros que estimulem a desconfiança na desinformação e incentivem a checagem dos fatos com outras fontes, principalmente as que são reconhecidas pela qualidade do trabalho.
Nada contra influenciadores. Aliás, muitos deles são brilhantes, mas seria importante que eles também fossem capacitados para trabalhar cada vez melhor nos conteúdos em saúde. As bigtechs também precisam enxergar sua responsabilidade e aumentar a sensibilidade a conteúdos que podem ser danosos à saúde dos usuários.
Bom, pessoal, eu por aqui sigo no meu trabalho de tentar reforçar a qualidade da informação, com leveza e objetividade. Queria agradecer imensamente ao UOL, a todos meus colegas, que ao longo dos anos todos me ajudaram nessa minha jornada por aqui, e a você, leitor, que acompanhou esses textos, vídeos e colunas. Até breve e com a certeza de que logo a gente se encontra em outros canais. Obrigado do fundo do coração! Valeu!
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