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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Violência contra a mulher impacta saúde física e mental para a vida toda

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

29/09/2021 04h00

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Provavelmente você já viu uma menina ser orientada a se sentar com as pernas cruzadas, não utilizar roupa sensual e não ter essa ou aquela atitude considerada sexualizada. Como se uma atitude ou roupa fosse um convite ao corpo ou às relações sexuais. Também já deve ter ouvido a frase que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher.

Nós precisamos mudar esses pensamentos, eles deslegitimam a vítima e fazem com que muitas mulheres que sofrem algum tipo de violência se sintam de alguma forma culpadas ou desencorajadas a denunciar, mas por que a sociedade ainda julga antes de acolher?

A definição de violência de gênero dada pela ONU (Organização das Nações Unidas) é: "Qualquer ato de violência baseada no gênero que resulte ou possa resultar em dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a uma mulher, incluindo ameaça de tais atos, coerção, privação arbitrária da liberdade, seja no âmbito público ou privado."

Esses atos violentos podem impactar a saúde física e mental para a vida toda.

A violência, algumas vezes, não é clássica, às vezes ela é sutil, sedutora ou a proximidade com o agressor faz com que a vítima deixe essa situação passar sem punição ao agressor, mas com peso e punição para a própria vítima por diversos anos.

No ano de 2019, 3.737 mulheres foram assassinadas no Brasil, dessas 66% eram negras. Isso representa que a cada mulher não negra morta, morrem 1,7 mulheres negras. Outro traço marcante da sociedade que concentra a violência nas minorias.

Sem dúvida o feminicídio é a forma mais grave e complexa da violência contra a mulher, mas nem sempre ela é gradativa, ou seja, nem sempre a mulher que hoje recebe um tapa vai levar mais até chegar ao feminicídio, muitas vezes essa violência chega a situações extremas rapidamente sem passar, necessariamente, por etapas, por isso ao primeiro sinal buscar ajuda é fundamental.

Para auxiliar o atendimento a mulheres em situação de violência existem alguns serviços públicos:

- Centros de Referência de Atendimento à Mulher: atendimento psicológico, social, orientação e encaminhamento jurídico.

- Serviços de saúde voltados para o atendimento dos casos de violência sexual e doméstica: com assistência médica, de enfermagem, psicológica e social às mulheres vítimas de violência sexual, inclusive nos casos de interrupção da gravidez prevista em lei.

Sem esquecer que as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) são a porta de entrada para o atendimento em muitas regiões facilitando o acesso e permitindo o atendimento em locais sem centros próximos.

Outra iniciativa de suporte, acolhimento e aconselhamento é o projeto Justiceiras, para combater e prevenir a violência de gênero oferece orientação jurídica, psicológica, socioassistencial, médica, rede de apoio e acolhimento gratuito e on-line.

Onde pedir ajuda?

Além dos locais já citados é possível encontrar orientação nesses locais:

- Central de Atendimento à Mulher: central telefônica 14 horas ligando 180.

- Aplicativo Direitos Humanos Brasil: aplicativo que permite a criação de denúncias de forma identificada ou anônima.

- Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos: ferramenta que recebe denúncias e encaminha para serviços especializados.

Nos casos de estupro, procurar os centros médicos multidisciplinares o mais rápido possível faz toda a diferença, pois neste local a vítima deve receber acolhimento, atenção a sua história, histórico clínico, exame ginecológico, medicações contra infecções sexualmente transmissíveis, anticoncepcional e orientação sobre os aspectos jurídicos.

A violência de gênero está aqui na nossa sociedade de diversas formas, cabe a sociedade compreender que essas atitudes não podem ser consideradas apenas um problema do outro, a luta contra a violência é da sociedade.

Gostou deste texto? Comentários, críticas e sugestões podem enviar email para dralarissacassiano@uol.com.br.

Referências:

  • Cerqueira, Daniel Atlas da Violência 2021 / Daniel Cerqueira et al., -- São Paulo: FBSP, 2021.
  • Violência contra a mulher pela perspectiva da Atenção Primária à Saúde, Luísa Chaves Simões Silva- Ebook, 2021.