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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem acolhimento, violência sexual afeta toda a vida de uma mulher

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colunista do UOL

14/09/2022 04h00

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Mais uma vez a violência sexual estampa as capas de jornais e portais brasileiros, mais uma menina foi violentada, dessa vez a mesma menina foi violentada mais de uma vez. E o que essa violência sexual diz da nossa sociedade? O que nós como sociedade precisamos refletir sobre casos assim?

Aqui, já abordei algumas vezes questões relacionadas à violência sexual, mas hoje gostaria de abordar pontos da minha visão como ginecologista sobre o impacto que a violência sexual pode causar na vida de uma pessoa.

Nunca parei para contar o número de mulheres que já atendi e que me relataram ter vivenciado abuso sexual, mas confesso que alguns casos pontuais me chamaram tanto a atenção que um deles me inspirou a buscar uma especialização maior na área para ajudar a acolher e compreender.

Um dia me deparei com uma paciente encaminhada após tentativa de exame ginecológico sem sucesso, porém, não foi a paciente e, sim, a profissional que sinalizou que a dor intensa que ela sentia não era nada normal e que poderia ser algo além da suspeita de endometriose, pois por anos a paciente acreditou que a penetração vaginal e o exame ginecológico eram processos dolorosos.

Tentei compreender e, depois de um tempo, ela me contou que cresceu ouvindo sobre um abuso sexual sofrido na infância, mas que ela não conseguia se recordar, talvez por ser nova demais ou porque ela havia bloqueado da memória.

Com o passar dos anos, seu corpo também foi bloqueando todos os fatos que envolviam sua saúde íntima e sexual, com dores e doenças sem diagnósticos. Passou anos pensando que a dor pélvica poderia ser endometriose, porém os exames nunca mostraram nada. Infecções urinárias de repetição, dor na penetração vaginal, corrimento vaginal de repetição, tudo isso associado a muitas consultas dolorosas, até o dia em que essa profissional a alertou para a intensidade da dor e a possibilidade de algo além, o vaginismo.

O vaginismo é uma alteração que afeta a musculatura do assoalho pélvico, levando a contrações e tensões na região pélvica durante a penetração vaginal, seja durante a relação sexual ou exames ginecológicos, algo desconfortável o suficiente para fazer uma pessoa parar de ter relações sexuais e de buscar atendimento ginecológico.

Ou seja, o vaginismo pode afetar a saúde sexual e ginecológica colocando em risco diversas questões que vão desde relações interpessoais a alterações no colo do útero que podem deixar de ser diagnosticadas. Após o diagnóstico adequado, é possível buscar tratamento com fisioterapia pélvica e terapia sexual.

Contei toda essa história para refletirmos que, por mais que já tivemos muitos avanços na violência contra a mulher em nossa sociedade, ainda existe tal violência tão extrema que marca a vida inteira de uma mulher, com isso ressalto a importância de buscar o diagnóstico correto e consequentemente o melhor tratamento, pois para a sociedade é uma nota passageira em um jornal, mas para a criança que vivenciou essa violência sem o tratamento adequado pode significar toda a vida.

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