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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A solidão feminina e a maternidade fora dos padrões

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

08/02/2023 04h00

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Há um tempo estou pensando em escrever sobre esse tema, mas, confesso, me faltou coragem. Até esses últimos dias, que tenho visto sobre a coragem da Glória Maria e tudo que ela fez, como uma forma e reflexão sobre representatividade gostaria de trazer essa questão e deixar aqui a minha gratidão ao trabalho dela, pois parte do que sou aqui também é reflexo das portas que a Glória abriu.

O racismo está presente de muitas formas na nossa sociedade e, como diz o ministro Silvio de Almeida, ele é estrutural e essa estrutura muitas vezes se reflete na forma com que mulheres são vistas pelos homens na sociedade, sejam brancos ou sejam negros.

Para alguns, a mulher negra não é uma opção, não existe cor para amar alguém, mas para não se relacionar será que também não existe?!

Não estar entre a escolhida, para se relacionar, ter filhos, ser objetificada como apenas um corpo, sem levar em consideração os sentimentos em muitas situações, enfrentar desafios no campo de trabalho, é algo vivenciado por muitas mulheres de todas as cores na atualidade, mas não é só uma marca de solidão, é também uma redução nas possibilidades da maternidade, e falar sobre isso é falar também sobre saúde.

O relógio biológico feminino não acompanha os desejos das mulheres, não anda mais devagar e não volta atrás, e a idade feminina é um dos fatores para que a gestação aconteça, pois, diferente dos homens, que produzem espermatozoides ao longo da vida, as mulheres nascem com uma quantidade determinada de óvulos que vão passando por uma redução na quantidade e qualidade, mesmo para quem utiliza anticoncepcional, tem menstruação irregular e até mesmo fica períodos sem ovular.

Uma bebê nasce com aproximadamente 1 a 2 milhões de óvulos, na adolescência o valor é de 300 a 400 mil óvulos, entre 35 a 37 anos aproximadamente 25 mil óvulos e na menopausa aproximadamente mil óvulos.

Apesar de tudo, se a maternidade é um plano, sabendo que o relógio biológico não espera e os desafios são grandes, ter um plano B ou C pode ser uma possibilidade para que o sonho não seja deixado de lado, e mudar o plano talvez seja melhor do que mudar o sonho.

Para quem acredita que a maternidade poderá ser tardia e se financeiramente for viável, o congelamento de óvulos pode permitir mais tempo para que a gravidez aconteça.

Para que não tem a possibilidade de utilizar os próprios óvulos, a ovodoação (doação de óvulos) é uma alternativa que pode trazer luz para quem não tinha mais esperanças na maternidade, através da própria gestação.

Ela acontece com uma pessoa que se cadastra em um banco de doadoras, até que suas características sejam escolhidas, isso sem que existam informações pessoais que permitam identificação. Depois de feita a seleção, a pessoa que irá receber os óvulos fica responsável por custear o tratamento de quem irá doar, quem doa fica com uma parte desses óvulos e outra fica com quem custeou o tratamento. Os óvulos podem ser fertilizados e até mesmo congelados para uma gestação futura.

Adoção, uma maternidade em que o coração que vive todas as transformações.

A solidão da mulher preta e tantas outras mulheres que estão fora de padrões pode parecer um tema de exceção para minorias, mas toda sociedade de alguma forma divide e reforça essa solidão; além disso, só com informações poderemos naturalizar as diversas formas de maternidade, além de dar mais opções de pensamento.

Aqui deixo minha homenagem a Glória Maria, profissional e mãe que mostrou como a maternidade não tem padrões e nem limites para o tamanho do amor.

Gostou deste texto? Dúvidas, comentários, críticas e sugestões podem ser enviadas para: dralarissacassiano@uol.com.br e veja mais no meu Instagram @dralarissacassiano.