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Lucas Veiga

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Redes sociais: a fantástica fábrica de modos de viver

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

28/06/2023 04h00

As redes sociais funcionam por meio da produção massiva de imagens e discursos, em sua maioria, voltados a estilos de vida —quer dizer, voltados a projetar imagens por vezes idealizadas sobre determinadas maneiras de conduzir a vida e de se conduzir na vida.

O uso excessivo das redes sociais tem como um de seus efeitos a fragilização dos parâmetros pessoais e certa alienação em relação ao próprio desejo, ao ponto de ficarem turvas questões fundamentais para bem vivermos, tais como, quem eu sou, o que eu penso e o que eu realmente quero ou preciso.

O capitalismo contemporâneo se perpetua muito em função de sua habilidade de comercializar não apenas bens e serviços, mas modos de viver; como se fosse uma fábrica que, em vez de produzir objetos destinados a consumidores, produzisse nos consumidores o que eles deveriam desejar.

O black mirror das telas de nossos celulares reflete imagens que, por vezes, acreditamos que devemos reproduzi-las na nossa vida para nos sentirmos pertencentes e alinhados com o que está sendo reconhecido como bom, bonito ou interessante.

Há um apelo à repetição e à reprodução do que está sendo projetado como desejável nessa grande engrenagem mercadológica que são as redes sociais. E aqui não estou me referindo a produtos, mas a maneiras de ser, estar, pensar e desejar.

Entretanto, se submeter ao que está posto como desejável numa tentativa de pertencimento e de prova de sucesso não nos livra dos efeitos nocivos da hipercomparação com o outro e da hiper-exposição tão comuns nas redes.

Será que a sensação de frustração e insuficiência, cada vez mais presente nas pessoas, não é também um efeito do uso excessivo das redes sociais e o que elas acabam por gerar em nós?

Para escapar ou reduzir o impacto desses efeitos, é fundamental conseguir se escutar mais, entrar em contato com o que realmente é importante para si, reduzir o acesso quando possível e estar atento e forte para não ser facilmente drenado pelo jogo próprio do funcionamento das redes.