Terapia está na moda? Entenda como funciona essa prática de cuidado
Um dos efeitos que a ampliação da discussão em torno da saúde mental produziu, em especial nos últimos três anos, foi certa popularização da terapia. Talvez popularização não seja o termo mais adequado, visto que boa parte da população ainda não faz uso desse serviço, ainda que seja disponibilizado pelo SUS, conforme relatei no meu primeiro artigo para o VivaBem.
Nas redes sociais, tem crescido muito o número de perfis que abordam o processo terapêutico; alguns o fazem de maneira um tanto irresponsável, descrevendo sintomas de transtornos e intensificando o autodiagnostico e a ansiedade dele derivada, o que não contribui para a promoção de saúde mental. Outros perfis fazem uso de humor para relatar a experiência de fazer terapia ou de ser terapeuta, tornando o tema leve e estimulando mais pessoas a buscar por esse espaço de cuidado.
Mas afinal, em que consiste uma terapia?
Primeiro, é fundamental a gente entender que existem diversas abordagens clínicas, perspectivas teóricas e métodos de intervenção. Quem faz terapia e tem amigos que também o fazem já deve ter reparado, ao conversar a respeito, nas diferenças que constituem o processo terapêutico de cada um. Isso sem contar com outro elemento importante: cada terapeuta tem seu estilo próprio, mesmo quando segue a mesma abordagem clínica de outro. Isso é bastante relevante, posto que o terapeuta empresta algo de si para realizar esse trabalho e não apenas reproduz o que leu nos livros.
Com isso esclarecido, podemos considerar a terapia como um espaço de cuidado que visa levar a pessoa a se encontrar consigo mesma, inclusive com a sua pior versão, com aquilo que ela odeia no seu jeito de ser, mas que acaba repetindo; com o que ela nega, mas que acaba se confirmando meio que sem querer através do famoso "ato falho". É um espaço para se dar conta e acolher as próprias contradições, medos, fantasias, desejos.
Numa terapia, a gente acessa as engrenagens que nos fazem funcionar de determinada maneira, no sentido de que a gente entra em contato com a maquinaria que produz nosso modo de ser, estar, sentir, pensar e amar. Esse encontro, por mais complexo e delicado que seja, é condição de possibilidade para que a gente possa desmontar algumas máquinas e fabricar outras na direção de viver melhor.
Mas tudo isso acontece apenas através da escuta do terapeuta?
Na verdade, o terapeuta não escuta apenas o que o paciente diz, ele escuta também o que o paciente faz, em especial durante a sessão de terapia, como o paciente atua na relação terapêutica os sintomas que o levaram a buscar análise. Para dar um exemplo, um paciente muito ciumento, que sofre nos seus relacionamentos devido ao excesso de insegurança, que o faz desconfiar permanentemente do outro, sentirá ciúmes do terapeuta e, ainda que não perceba, demonstrará isso por meio de suas atitudes com o especialista.
Mais do que a escuta, é a relação terapêutica que produz saídas e saúdes para o mal estar presente no paciente, porque é através dela que as questões mais difíceis aparecem na superfície, e é por meio dela que podem ser trabalhadas em vias do paciente aprender a lidar melhor com elas e até mesmo superá-las.
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