Viajar é o melhor remédio para quem está cansado de si mesmo
Viajar é uma experiência erótica. O filósofo Georges Bataille definiu o erotismo como "o desequilíbrio que nos leva a colocar o ser em questão". Para ele, o erótico, como via pela qual o eu estremece nos seus contornos, expande-se e se preenche de alteridade, se dá no amor, no sexo e no sagrado.
Essas três experiências ou esses três caminhos de acesso a eros, entendido como energia de ligação com o outro, possibilitam sair de si mesmo e habitar um espaço entre, onde as fronteiras entre o que sou eu e o que é a pessoa amada, entre meu corpo e o corpo do outro, entre a razão e a espiritualidade se desfazem por alguns instantes.
É esse desmanchar provisório de um si mesmo que caracteriza o erotismo, segundo Bataille. Uma experiência erótica é aquela e somente aquela em que eu me desconheço para conhecer o outro e o mundo de outra forma, para me conhecer de outra forma em seguida. Algo de inaugural sempre se presentifica no erotismo.
Retornando à frase que abre a coluna dessa semana, gostaria de propor um adendo ao conceito do filósofo e sugerir que viajar —assim como o amor, o sexo e o sagrado— também é uma experiência erótica.
Numa viagem a gente tem a oportunidade de fazer um mergulho numa realidade diferente da nossa. Outros hábitos, outra culinária, outras práticas culturais, outro sotaque ou outras línguas. Viajar é uma exímia vivência da alteridade. E quanto para mais longe se vai do local onde se vive, parece que o erótico da viagem fica mais intenso.
Viajar expande o eu, torna-o maior, possibilita que caiba mais mundo em nós, mais contradição, novas maneiras de sentir, olhar, pensar e viver a vida. Numa esquina qualquer, de uma rua qualquer ao redor do mundo, podemos nos deparar com algo ou alguém com quem a gente se liga (eros) e a partir daquele encontro a gente já não é mais o mesmo. O mergulho na alteridade fez nascer um outro de nós mesmos.
É comum as pessoas dizerem que se sentiram renovadas após uma viagem, mas mais do que isso, viajar pode transformar de múltiplas formas a direção que vínhamos dando para nossas vidas, e isso é grandioso, é saúde, é erótico.
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