Se sofrimento psíquico é problema político, como promover saúde mental?
Uma das questões que cada vez mais tem ficado evidente no contemporâneo é que o sofrimento psíquico é uma produção social ou, dito de outro modo, que o sofrimento psíquico é um problema político. Sintomas como ansiedade, depressão, compulsões, insônia e burnout estão cada vez mais presentes na clínica. Mas não podemos escutá-los como quadros de saúde mental de determinado paciente. Esses sintomas são produtos do tempo em que vivemos, efeitos diretos na saúde mental das pessoas provocados pelo contexto social.
Se o adoecimento psíquico é efeito de como a sociedade é organizada e gerida, a promoção de saúde mental só é verdadeiramente efetiva quando novos modos de organização social e política são construídos. É neste ponto que a clínica e a política se transversalizam.
Por mais fundamentais que sejam as terapias de cuidado como psicoterapia, ioga, meditação e afins, elas são insuficientes quando se trata, por exemplo, de pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social. Não há terapia capaz de reduzir a ansiedade de uma mãe que não sabe se vai ter o que dar de comer aos seus filhos. Promover saúde mental passa, necessariamente, por distribuição de renda e justiça social.
De igual modo, para que mudanças profundas no cenário político venham a se dar, é necessário uma nova mentalidade por parte da população, um novo modo de subjetivação, quer dizer, maneiras outras de pensar, sentir, desejar e ser com o outro e com a coletividade. E para isso, sem dúvida, a análise tem muito a contribuir.
Se entendemos que o sofrimento psíquico está diretamente relacionado com a configuração social e o contexto em que vivemos, podemos direcionar melhor nosso descontentamento e enfrentamento para tentar resolver ou reduzir os danos disso, que tem nos adoecido coletivamente. Esse entendimento e esse direcionamento são importantes para não canalizarmos nossas angústias nas nossas relações afetivas e com isso prejudicar o nosso vínculo com as pessoas, o que poderia intensificar a sensação de solidão, tão presente no contemporâneo.
Cada vez mais pensar o cuidado em saúde mental implica em criar estratégias coletivas e políticas públicas que contribuam para o bem viver, reduzam as desigualdades e criem condições de trabalho e de descanso dignas para a população.
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