Lucas Veiga

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Opinião

Estamos vivendo um período de tristeza compulsória?

Nas últimas semanas, ouvi muitos relatos de pessoas afirmando o quanto estava difícil acompanhar as notícias dos episódios recentes no Brasil e no mundo. Lidar com a quantidade enorme de informações que consumimos diariamente já não é uma tarefa simples do ponto de vista emocional e psíquico, ainda mais quando se trata de informações predominantemente negativas.

Se tomarmos a pandemia da covid como um marcador temporal, podemos dizer que nos últimos três anos temos lidado coletivamente com ameaças muito concretas à continuidade da vida do planeta e de diferentes grupos étnicos ao redor do mundo.

Assassinatos de lideranças indígenas e quilombolas, invasões de territórios, chacinas em favelas e comunidades periféricas, tentativas de proibição do casamento igualitário, suicídios provocados pelas chamadas terapias de conversão ou "cura gay", intensificação do genocídio do povo palestino através do conflito entre o Estado de Israel e o Hamas, efeitos preocupantes das mudanças climáticas, dentre outros acontecimentos, povoam os noticiários e as redes desencadeando na maioria das pessoas sentimentos de impotência, descrença e tristeza.

A felicidade compulsória, tão característica do contemporâneo e da fase atual do capitalismo, estaria aos poucos dando lugar à tristeza compulsória?

O aumento expressivo dos casos de ansiedade e depressão, sem dúvida, denunciam que o contexto social em que vivemos, tanto local quanto globalmente, tem sido fonte de sofrimento psíquico. Mas para além desses quadros clínicos que exigem tratamentos específicos de cuidado, a tristeza como um sentimento parece estar de algum modo prevalecendo no nosso dia a dia em relação a outros sentimentos.

A apatia ou a dessensibilização, que seria não ser afetado pelas durezas do tempo em que vivemos, também seria um efeito da tristeza compulsória, do excesso de acontecimentos negativos que compõem o cotidiano, a ponto de a pessoa criar certa defesa para se preservar emocionalmente com o risco de, ao fazê-lo, acabar tendo dificuldades de ser afetada também por aquilo que é bom.

O desafio que parece estar posto para nós é sustentar a aposta na vida; seguir investindo em nós, nas nossas relações, no nosso trabalho; insistindo em cultivar para nós e para aqueles que amamos espaços seguros e momentos de leveza onde a alegria não tem relação com a felicidade compulsória e onde a tristeza compulsória perde sua força.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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