3 elementos para evitar o bullying, o racismo e a agressividade nas escolas
Na última semana, dei uma palestra para educadores em um congresso organizado pelo Sindicato dos Profissionais da Educação da Cidade de São Paulo. O tema da palestra foi saúde mental no contexto escolar, em especial, abordando questões relativas ao bullying e racismo na escola.
As escolas, de um modo geral, têm lidado com episódios frequentes de agressividade entre os estudantes, o que tem deixado educadores e gestores bastante preocupados e reflexivos quanto a que práticas implementar para reduzir, intervir e prevenir esses episódios.
Há três elementos que me parecem fundamentais para lidarmos com essas questões:
- A análise do contexto social em que estamos vivendo;
- A atenção ao modo de funcionamento da escola
- A escuta e valorização das diferenças.
Falarei brevemente sobre cada um desses pontos a seguir.
Em primeiro lugar, nenhuma análise sobre o que se passa no interior da escola pode se dar sem o entendimento do que o contexto social atual tem produzido. Nesse sentido, estamos vivendo tempos difíceis, em que a violência urbana, as desigualdades sociais e o adoecimento psíquico da população têm se acirrado.
O aumento dos casos de ansiedade e depressão nos últimos anos é prova de que o modo de funcionamento e gestão da sociedade não caminha bem e crianças e adolescentes também têm sido afetadas
Correlatos à questão supracitada estão os efeitos que as redes sociais produzem, em especial, a hipercomparação com o outro e a sensação de sempre estar em falta em relação a algo ou alguém, devido aos ideais de beleza, estilo de vida e sucesso que são projetados pelas redes, em especial pelo Instagram e TikTok, o que faz com que muitos adolescentes se sintam aquém desses ideais e entrem em quadros de baixa autoestima, além de acabar por intensificar a prática de bullying sobre aqueles que estão mais distantes do que está posto como ideal.
O segundo elemento dos três que mencionei acima diz respeito a perceber o que no próprio modo de funcionamento da escola pode estar contribuindo para que a escola porventura não seja um espaço acolhedor e um espaço que limite a possibilidade de episódios de bullying ocorrerem.
Dizer isso não tem a ver com culpabilizar a escola, mas um convite a repensar e a implementar práticas pedagógicas que propiciem uma reflexão ampla sobre o tema e que envolvam os alunos no debate, o que está diretamente relacionado com o terceiro e último elemento citado, que é a escuta e a valorização das diferenças.
Em relação a episódios de racismo, por exemplo, o cumprimento da lei 10639, que estabelece o ensino de cultura afro-brasileira na escola é fundamental para combater a visão racista e estereotipada que a sociedade brasileira costuma ter em relação à população negra.
Isso é importante tanto no sentido da construção da identidade de crianças e adolescentes negros, num registro afirmativo e não de menos valia como o racismo tenta produzir, quanto para que crianças e adolescentes brancos em contato com a valorização da diversidade étnica não venham a reproduzir racismo no espaço escolar.
Certamente, os desafios são muitos e cada escola criará suas estratégias para lidar com a questão, mas acredito que considerar esses três elementos na implementação de práticas de redução e prevenção da agressividade entre alunos pode contribuir sobremaneira para o fortalecimento de um espaço escolar mais sensível a questões do contemporâneo e como estas têm impactado os estudantes, que acabam por reproduzi-las dentro da escola.
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