O amor é uma força revolucionária: como viver segundo uma ética amorosa?
Chegamos ao artigo final de uma série de quatro artigos em que venho comentando sobre o livro "Tudo Sobre o Amor", da escritora estadunidense bell hooks. Em cada uma das semanas de novembro, selecionei um capítulo do livro para refletirmos juntos a respeito.
Escolhi o capítulo "Valores: viver segundo uma ética amorosa" para encerrar essa série, por trazer elementos fundamentais para pensarmos no exercício do amor na relação com a coletividade.
É mais comum para nós entendermos a importância do amor-próprio e os caminhos para viver bem o amor nas relações conjugais do que pensá-lo também como indispensável para a vida em sociedade.
"Os valores que sustentam uma cultura e sua ética moldam e influenciam a forma como falamos e agimos", afirma bell hooks, trazendo em seguida que o poder e a dominação são valores que fazem parte da nossa sociedade e são responsáveis pela reprodução de uma série de violências, como o racismo, o machismo, a LGBTfobia, entre outras.
Uma sociedade que tem a dominação como valor, e a dominação é uma herança da colonização, opera por meio da subjugação da diferença. Cria-se uma hierarquia entre pessoas e grupos sociais de modo a um sempre exercer poder sobre o outro.
"Qualquer sistema de dominação precisa socializar todo mundo para acreditar que em todas as relações humanas há um lado superior e um inferior", diz bell hooks. Podemos acrescentar a isso a competição, própria da lógica neoliberal do tempo em que vivemos, como mais um fator que prejudica a criação de laços comunitários, de vínculos de apoio e de cooperação no lugar da dominação e da competitividade.
O que bell hooks propõe como ética amorosa tem a ver com aplicar as dimensões do amor em nosso cotidiano e nas comunidades em que fazemos parte, seja a vizinhança, seja coletivos de ativismo político, seja entre amigos, na família, no espaço de trabalho. Como ela defende no livro, as dimensões do amor são: cuidado, respeito, disponibilidade em aprender, integridade e vontade de cooperar.
Assumir uma ética amorosa, portanto, tem a ver com acreditar no amor como força revolucionária capaz de mudar os rumos de toda uma sociedade em direção a que cada um e todos possam viver melhor, em dignas condições, tendo direito à alegria, à liberdade e a uma vida conectada com a sua potencialidade.
Para a autora, numa sociedade em que a ética amorosa prevaleceria, não haveria pessoas passando fome, porque os valores que conduzem as ações dos membros desta sociedade não permitiriam que um dos seus vivesse tamanha precariedade.
Vivermos segundo uma ética amorosa, ao invés de cairmos nas armadilhas da dominação, da competição, da comparação e do medo do outro, implica em assumirmos o compromisso, como convoca bell hooks, de abraçar uma visão global em que nossa vida e nosso destino estão intimamente ligados aos de todas as outras pessoas do planeta.
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