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Covid e influenza: quem deve testar, como e quando? Como fica o isolamento?
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O nariz escorreu, você espirrou, a garganta arranhou, o corpo reclamou de quebradeira e pronto! Se a temperatura subiu, então, nem se fala. Basta um desses sintomas e até quem tinha certa segurança sobre como agir em tempos de pandemia sente bater um branco total.
Com a impressão de estar cercado de gente com covid-19 por todos os lados, ninguém mais lembra direito que teste fazer, nem quando. Você também já não sabe se dá para acreditar no resultado ou se tem que testar de novo. E, cá entre nós, se decide repetir o procedimento, talvez nem encontre teste disponível tão cedo. Faz mesmo assim, só que lá adiante?
Tão ruim quanto esperar demais é fazê-lo antes da hora, satisfazendo a ansiedade —é covid-19 ou não é?— e saindo iludido com um falso negativo. Costuma acontecer com os afobados.
Também é péssimo quando se trata de um negativo de verdade e a pessoa, aliviada, se acha com passe livre por ser provavelmente "só" uma gripe. Não é bem assim.
Ah, sim, nem preciso refrescar a sua memória de que a variante ômicron do Sars-CoV-2 está convivendo nas nossas ruas, praias, bares e baladas com o influenza H3N2, capaz de causar sintomas parecidos para apertar os nós na nossa cabeça. Na prática, ambas exigem algum período de isolamento. Tenha você um vírus ou o outro ou os dois.
Por falar nisso, as orientações sobre o isolamento dadas pelo Ministério da Saúde mudaram ainda ontem, dia 10. E assim brotam mais dúvidas. Afinal, são dez, sete ou cinco dias? Opa, depende. Vamos por partes, então.
"Não sinto nada e não sei se cruzei com alguém com covid-19. Mas viajei, fiquei em lugares cheios, fui a festas"
Agora está feito, respire fundo e, atenção, não saia correndo atrás de um teste, seja ele qual for —é o que, em outras palavras, recomenda o infectologista Alberto Chebabo, diretor do Hospital Clementino Fraga Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e gerente de relacionamento médico da Dasa.
"Na iminência de um colapso, os testes não precisariam ser feitos para você simplesmente matar a sua curiosidade", justifica o médico. "Eles devem ser reservados àquelas pessoas com sintomas ou que sabidamente entraram em contato com quem estava infectado", diz.
Mas até dá para entender o receio. Você talvez se enquadre naquele tipo que sabe o que fez na noite de sexta-feira passada e na retrasada, a da virada: achou que podia brincar com um fogo chamado ômicron que, cerca de quatro vezes mais transmissível do que delta, deixou essa antecessora no chinelo.
"E estamos apenas no início de uma curva de elevação de casos de covid-19 no país", nota Chebabo. "A onda está subindo e a projeção é de que ela será bem maior dentro de três a quatro semanas."
Daí que, pelo sim, pelo não, quem esteve em aglomerações —como naquele aeroporto antes de chegar em um destino onde o distanciamento social parecia possível— deve redobrar o cuidado para proteger os outros durante dez dias contados a partir do seu retorno para casa.
"Isso significa levar uma rotina normal, mas caprichando ainda mais no uso da máscara", esclarece Alberto Chebabo. Faz sentido. Afinal, você nunca sabe quando irá cruzar com pessoas imunossuprimidas, como alguém transplantado ou que está em tratamento de um câncer. Elas, ainda que vacinadas, podem sucumbir ao vírus.
"Pela mesma razão, aguarde de sete a dez dias para visitar o vovô, a vovó ou qualquer indivíduo idoso", aconselha o médico.
"Não tenho sintoma, mas estive com pessoas que testaram positivo"
Na opinião do infectologista Moacyr Silva Junior, do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, "nesta altura do campeonato, devido à explosão diária de casos de covid-19, seria irracional testar todo mundo que não apresenta sintomas só porque topou com um sujeito contaminado." Para ele, a medida nessa situação continuaria aquela: usar de máscara pra valer e evitar contato com integrantes de grupos risco por dez dias.
Para Alberto Chebabo, porém, quem se encontrou com alguém que pegou o Sars-CoV-2 deveria fazer o teste da PCR, que acusa o material genético do vírus. Só que tem data certa para isso: "Você deve contar exatos cinco dias após o último contato com a pessoa que descobriu estar infectada, considerando esse encontro como o dia zero", ensina.
Ou seja, suponha que você jantou no sábado com um amigo que, hoje, terça-feira, testou positivo para covid-19. Domingo, então, foi o "dia 1"; segunda-feira, o "dia 2"... Logo, você deveria fazer o exame de PCR na quinta-feira.
O que acontece se você faz o PCR antes? Poderá dar um belo falso negativo. Apenas a partir do quinto dia é que o resultado negativo se torna confiável quando você não está sentindo nada de diferente.
"Estou com sintomas suspeitos"
No melhor dos mundos, você faria um teste de PCR conhecido por multiplex. "Ele detecta quatro vírus: o da covid-19, o influenza A, o influenza B e o sincicial, que afeta bebês e crianças pequenas", diz o doutor Chebabo. Ou seja, o PCR multiplex dá o veredito se é gripe ou se é covid-19.
O problema é que, se um PCR que flagra apenas o Sars-CoV-2 já é mais caro do que o teste rápido de antígeno, o qual pode ser feito em farmácia, o custo do multiplex é maior ainda —e nem o convênio banca. Portanto, ele se torna inacessível para muitos de nós.
"Então, concentre-se em descartar a possibilidade mais séria, que é a de estar com a covid-19", diz o infectologista. Para isso, no terceiro dia, você poderá fazer o PCR —"no caso, no terceiro dia porque há sintomas", diz o doutor Moacyr Silva, do Einstein— ou o teste de antígeno (que você faz na farmácia), que denuncia proteínas da película que envelopa o material genético do vírus.
Aprenda: não há falso positivo no teste de antígeno. Aliás, muito menos há falso positivo no teste de PCR, que segue sendo o padrão-ouro. Em ambos, o laudo positivo é covid-19 na certa —e ponto. Por isso, um resultado afirmativo no exame de antígeno não exige que você faça um PCR depois para confirmar o diagnóstico, como muita gente pensa.
Já um resultado negativo do teste de antígeno quando há sintomas sempre deixa pulgas atrás das orelhas. Aí, sim, o certo é complementar com o PCR, consolando-se por ao menos ter sido válida a tentativa de confirmar uma eventual covid-19 mais cedo com o exame de antígeno, até para avisar depressa todos os seus contatos.
Se estiver infectado, lembre-se de colocar nessa lista companhias aéreas informando o seu voo, agências de turismo se, por acaso, participou de passeios, anfitriões de festas —enfim, quem conseguirá alertar gente que você não exatamente conhece, mas com quem dividiu espaço nos últimos tempos. Seria o mais correto.
"Tenho sintomas, mas o PCR deu negativo"
Nesse caso, assuma que você pode estar com gripe, uma vez que vivenciamos uma epidemia de influenza. Mesmo sem ter feito um PCR para apontar esse vírus, por garantia fique recolhido por cinco dias ou aguarde 24 horas após o sumiço da febre sem o uso de remédios —o que pode ocorrer até antes.
"Sem isso, a transmissão da gripe irá persistir na comunidade e ela é capaz até de matar quem pertence ao mesmo grupo de risco da covid-19", adverte o doutor Moacyr Silva. "Nessa gente, o influenza também pode exigir ventilação mecânica e afetar órgãos como os rins e o coração."
"Não consigo marcar o teste"
De fato, as agendas estão lotadas. A questão é: se estiver com uma covid-19 assintomática ou com sintomas moderados, a tendência será transmiti-la por, no máximo, dez dias. Desse modo, de nada adiantará marcar o PCR para o 11º dia em diante. Embora esse exame ainda possa flagrar o que restou de vírus, cairá naquela história de não ter outra serventia a não ser matar a sua curiosidade.
"Se, por qualquer motivo, não der para testar por volta do quinto dia, então, opte pela cautela e fique isolado em casa como se tivesse um diagnóstico de covid-19", orienta Alberto Chebado. Por falar nisso...
A duração do isolamento mudou, e agora?
O infectologista da Dasa é pragmático: "Com o avanço da vacinação, o problema dessa onda de covid-19 não é mais lotar as UTIs e, sim, desestruturar todos os serviços, faltando funcionários em setores básicos como transporte, alimentação, segurança e na própria saúde".
Portanto, a duração menor do isolamento para quem que pegou o Sars-CoV-2 e que está assintomático ou com mal-estar leve funcionaria para evitar uma pane, ao passar de dez para sete dias. A transmissão realmente é acentuada no início da infecção, diminuindo bastante após alguns poucos dias —isto é, quando a pessoa é vacinada.
Um esclarecimento: o isolamento de cinco dias sugerido pelo Ministério da Saúde é apenas para quem já está sem sintomas de uma infecção respiratória, fez obrigatoriamente o teste e não está com o vírus. Leia, para quem está sem covid-19.
Já o isolamento encurtado para uma semana quando se tem a doença não quer dizer voltar à rotina três dias antes como se nada estivesse acontecendo. "O ideal seria usar máscaras N95 ou PFF2 até completar os dez dias", diz o Chebabo. "Nesse período, o acessório nunca deve ser retirado na proximidade de qualquer pessoa. Durante o almoço, é melhor você se sentar sozinho em um canto", exemplifica ele.
Para não dizer que não falei das crianças
O médico Marco Aurélio Sáfadi, presidente do departamento de infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatra), afirma que a meninada que apresenta sintomas deve ser testada assim que possível. "Antígeno ou PCR, o teste pode ser feito em todas as idades", informa. "E, no caso daquelas que estiveram com alguém com a doença, também recomendamos fazer um teste após cinco dias desse encontro."
Diga-se que a prescrição de isolamento e uso de máscaras —para aquelas crianças que já conseguem usá-las, claro— é a mesma que vale para os adultos.
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