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Hiperplasia da próstata: cirurgia que usa vapor não atrapalha a ejaculação
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Ninguém sai falando do assunto e os números dão a dimensão do tabu: praticamente nove em cada dez homens que se submetem a uma cirurgia para tratar a hiperplasia benigna da próstata passam a ter orgasmos secos. Gozam, mas sem jorrar uma única gota visível de esperma. Ou melhor, na hora do prazer, o líquido é lançado na direção contrária à da saída do corpo. Sobe para a bexiga. É o que os médicos chamam de ejaculação retrógrada.
Raspagens convencionais, técnicas a laser, cirurgias robóticas — enfim, todos os procedimentos para corrigir o crescimento dessa glândula masculina que já existiam entre nós, por mais bem realizados que sejam, oferecem um risco elevado de a ejaculação engatar a ré.
Daí uma das vantagens de uma nova cirurgia que usa vapor de água destilada na escaldante temperatura de 100 ºC para fazer a glândula se retrair, diminuindo em até 48% o seu volume. Com a vaporização, o perigo de alguém ficar com ejaculação retrógrada é pequeno — apenas um em cada dez homens vai apresentar essa queixa.
Batizada de Rezum, a técnica já vem sendo feita nos Estados Unidos. No entanto, mesmo por lá, os estudos mais antigos só vêm acompanhando pacientes há uns cinco anos, não mais. Aliás, mostram que a maioria continua muito bem e que, nesse período, a hiperplasia benigna só voltou em 4,4% dos casos.
No Brasil, apesar de ter sido aprovado na virada de 2023 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o procedimento foi realizado pela primeiríssima vez há exatamente uma semana, na quinta-feira, 22, no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. "Operamos três homens e todos estão ótimos", conta Carlo Passerotti, coordenador do Centro Especializado em Urologia da instituição.
Entenda a hiperplasia benigna
Não adianta, rapazes: é da idade. Na faixa dos 50 anos, 20% dos homens têm uma próstata crescidinha além da conta. E, aos 90, não existe um único senhor sem o registro de hiperplasia benigna em sua ficha médica.
Aliás, o nome já esclarece que não há qualquer malignidade nisso. A próstata é feita basicamente de dois tecidos. "O mais periférico é aquele onde pode aparecer um câncer", descreve o urologista. Diga-se que, por ficar assim, mais na superfície, é que os médicos muitas vezes conseguem sentir pelo exame de toque quando há algo suspeito.
O outro tecido da próstata, este mais no seu interior, é o que cresce com o tempo. E isso, apesar de esperado, é capaz de incomodar um bocado. "É que, uma vez aumentado, ele pode acabar comprimindo o canal da uretra, que passa bem no meio da próstata", justifica o doutor Passerotti.
Aí, a urina fica com dificuldade para escoar. O aperto faz com que saia a conta-gotas, depois de um jato breve e mixuruca. "Então a bexiga, que comporta uns 400 mililitros de líquido, se esvazia pouco. Por isso, nem é preciso beber muita água para o sujeito logo senti-la completamente cheia de novo", explica o médico.
Resultado: de madrugada, é um tal de se levantar várias vezes. Nos passeios, procurar depressa onde fica o banheiro. No avião, só aceitar a cadeira no corredor para eventuais "saídas de emergência", sabem como é...
Claro, tamanho conta quando a próstata incha e deixa de ter os seus 25 gramas da mocidade, às vezes duplicando ou mais do que triplicando esse peso no quadro típico da hiperplasia benigna. "Mas o critério para buscar tratamento é, antes de mais nada, o quanto isso está atrapalhando a vida", explica o doutor Passerotti.
Afinal, segundo o médico, há homens com próstatas enormes, mas que cresceram "para fora" — e estes não têm tanto do que reclamar quanto outros em que o tecido se dilatou mais por dentro, quase esmagando a uretra.
O problema dos remédios
Existem remédios para tratar essa condição, é verdade. Só que eles estão longe de representar uma excelente solução. "O maior obstáculo são os efeitos colaterais", aponta o urologista.
Os chamados alfa-bloqueadores, por exemplo, que relaxam a próstata aliviando o sufoco, podem fazer a pressão arterial cair, causando mal-estar especialmente quando o sujeito se levanta depressa.
Já os chamados inibidores da 5-alfa-redutase são capazes de atrapalhar a libido e a ereção de até 15% dos usuários — e, mesmo entre os homens que não amargam esse efeito adverso, o uso pode não compensar, uma vez que a próstata só diminui uns 10% depois de longos seis meses usando a medicação. Restam, portanto, as cirurgias.
A questão da ejaculação retrógrada
Fique claro: todas as técnicas cirúrgicas aprovadas para tratar a hiperplasia benigna da próstata são seguras, no sentido de que não costumam causar disfunção sexual, nem incontinência urinária. A ejaculação retrógrada é o senão.
Ela seria um problema? Em princípio, a resposta é negativa. Os cerca de 3 mililitros de líquido ejaculados se diluiriam na urina dentro da bexiga. "O indivíduo nem conseguirá enxergar nada diferente depois", assegura Carlo Passerotti. "A questão é que muitos homens associam a sensação do esperma saindo ao prazer."
De acordo com o especialista, isso faz com que alguns deles desistam de operar quando ficam sabendo da alta possibilidade de o gozo se tornar seco. Ou se sentirem incomodados depois de operados, o que prejudica a vida sexual.
O que as técnicas cirúrgicas fazem — de um jeito ou de outro, seja por raspagem, com a ajuda do laser ou como for — é alargar o miolo da próstata, dando finalmente uma folga para a uretra que está bem ali. "Acontece que esses procedimentos acabam dilatando um pouco o colo da bexiga também."
É dessa região que parte a uretra. E existe ali um esfíncter, isto é, um músculo externo que a abraça. Assim, quando a vesícula seminal se contrai em pleno gozo, lançando com força o seu conteúdo, o tal esfíncter se fecha — primeiro, para não escapar um pouco de urina junto e, segundo, para não haver outro caminho a não ser o jato ser empurrado para fora.
"No entanto, se o colo da bexiga está mais aberto, por uma questão de Física a ejaculação irá na direção mais fácil, onde não há pressão", explica o médico. Ou seja, o líquido voltará, em vez de seguir adiante.
Isso só causará maiores transtornos, diz o médico, se por acaso o homem mantém planos de ter filhos. Em todo caso, o aspecto psicológico pode ser um estraga-prazeres. Quando é assim, o vapor chega como uma alternativa.
Como é a técnica
Com o paciente sedado, o médico introduz o equipamento com uma câmera pela uretra. Quando vê que alcançou a altura da próstata, aperta um gatilho. Então, sai uma agulha que se dobra como uma letra "C", afundando 1 centímetro na glândula. Dela, durante exatos 9 segundos, sai o jato de vapor fervente.
O calor causa uma espécie de queimadura. Sob seu efeito, o tecido se retrai e isso dá espaço à vontade para a uretra — sem afetar o colo da bexiga na imensa maioria dos casos, bem entendido.
O médico costuma fazer duas aplicacões de vapor de cada lado e outra, para finalizar, na parte inferior da glândula. "Mas uma próstata muito grande pode exigir que eu aperte o gatilho três ou quatro vezes à esquerda e, depois, à direita." doutor Passerotti.
Ainda assim, tudo dura uns cinco minutos. Entre a chegada no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a saída, levando em conta o tempo de sedação, os três pacientes operados na quinta-feira passada, 22, não ficaram mais do que três horas no lugar. "É uma permanência equivalente à necessária para um exame de endoscpia", compara o urologista.
Segundo o médico, os custos são similares ao de outros procedimentos cirúrgicos para resolver a hiperplasia benigna e os planos de saúde bancam com parte deles. Isso porque existe um código para vaporização de próstata.
A parte desagradável também é parecida: por um tempo, o tecido queimado fica inflamado. Daí que, na hora de urinar pode arder um tantinho.
Para quem serve
Apesar de parecer excelente, Carlo Passerotti não acredita que a novidade vá substituir de vez as técnicas cirúrgicas mais antigas.
"Casos mais graves ainda precisarão da raspagem convencional", opina. Existem homens em que a próstata cresceu de tal jeito que a dificuldade para urinar força e acaba inchando os rins, por exemplo. O vapor não é para eles. Nem para donos de próstatas que já passaram dos 80 gramas.
"A técnica com o vapor é para casos intermediários", explica Passerotti. "Funciona bem para aqueles homens que não querem ou que não podem tomar remédios e que estavam adiando o procedimento cirúrgico até por não desejaram um gozo seco." Se esse era o problema, agora relaxem.
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