Lúcia Helena

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Reportagem

OMS faz alerta: cheque a vacina de sarampo antes de viajar para fora

As luzes natalinas ofuscaram um alerta da maior importância que a OMS (Organização Mundial da Saúde) soltou dez dias antes das festas de final de ano: "A Europa está experienciando um crescimento alarmante de sarampo. Mais de 30 mil casos foram reportados em 40 países europeus só entre janeiro e outubro do ano passado. Em comparação com os 941 registros da infecção em 2022, é um número 30 vezes maior. E esse aumento foi acelerado nos meses mais recentes."

A notícia reverberou nas redes sociais da pediatra Mônica Levi, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações): "A vacinação é a única forma de se proteger contra o sarampo. Ele pode ser uma doença grave, pode inclusive ser fatal. Então, eu recomendo que todos chequem sua carteirinha, vejam se estão adequadamente vacinados e, se não estiverem, se vacinem antes de viajar. Que tenham uma viagem tranquila, segura, sem doenças. E que tragam na bagagem somente lembranças boas e não uma infecção pelo vírus do sarampo, que pode gerar, aqui no Brasil, novos surtos", postou ela no dia 27 de dezembro, ecoando a orientação da OMS.

A médica lembrou que o país está prestes a reconquistar o certificado de eliminação do sarampo, que perdemos em 2019, ano em que o Morbillivirus, causador da doença, se espalhou por 20 estados. Ele entrou no nosso território junto com refugiados venezuelanos, os quais bem que poderiam ter sido imunizados na fronteira. Mas isso não aconteceu. O vírus também voltou ao Brasil feito um clandestino no organismo de turistas vindos de outros cantos. O fato é que só teve brecha porque a nossa cobertura vacinal andava baixa.

"Mas agora já não temos casos há mais de ano, desde junho de 2022. E assim queremos continuar", disse Mônica Levi no vídeo da postagem. Fui procurá-la, para não arriscar que alguns pontos fundamentais dessa história ficassem mal compreendidos.

O problema não é só de quem foi ou vai para a Europa

Dias antes do alerta sobre o continente europeu, os americanos farejarem o perigo: "O sarampo pode vir para os Estados Unidos de qualquer lugar do mundo", afirma uma nota do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), publicada em 8 de dezembro passado. "Neste momento, há surtos em muitas regiões do globo. A infecção pode chegar por meio de viajantes estrangeiros ou de cidadãos americanos voltando de outros países."

E não deu outra: nesta semana, foi anunciado um surto de sarampo na Filadelfia. O primeiro caso, notificado no mês passado, foi em uma criança que tinha retornado de uma viagem internacional com os pais.

Diga-se: o vírus fica incubado no organismo de dez a doze dias antes dos primeiros sintomas. No entanto, a pessoa já está passando o Morbillivirus adiante uns seis dias antes das famosas placas vermelhas — os exantemas, que são notados primeiro no rosto e na nuca e que, depois, parecem descer para o tronco e para o resto do corpo. E ela continua transmitindo a infecção pelo ar, ao tossir ou simplesmente falar, até seis dias depois do surgimento dessas erupções na pele.

O risco é para quem não está vacinado

Sarampo só se tem uma vez na vida. A imunidade desencadeada pela doença dura para sempre. Mas, para quem por sorte nunca pegou essa infecção, a única maneira de ficar blindado é tomando a vacina.

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Calcula-se que, se dez pessoas não vacinadas entrarem em contato com alguém contaminado pelo Morbillivirus, nove ficarão doentes. É um dos vírus mais contagiosos de que se tem notícia.

Aliás, uma das explicações para a situação da Europa é que, em 2019, 96% de sua população tinham tomado a primeira dose do imunizante contra o sarampo. Mas, em 2022, essa taxa caiu para 93%.

Tudo piora quando olhamos para a segunda dose — necessária para completar o esquema e alguém ficar, de fato, imunizado. Nessa segunda dose, a cobertura entre os europeus caiu de 92%, em 2019, para 91%, em 2022.

Parece uma diferença pequena, mas saiba: "Quando se trata do sarampo, é preciso alcançar uma taxa de cobertura vacinal de, no mínimo, 95%", ensina Mônica Levi. "E ela precisa ser homogênea. Não adianta a média geral ser de 95% e haver grupinhos de não vacinados. Afinal, se um integrante pegar sarampo, todos apresentarão a doença e, então, teremos um surto."

Embora o Brasil esteja, pouco a pouco, recuperando suas taxas de cobertura vacinal, a da primeira dose da tríplice viral — imunizante que nos defende do sarampo, da caxumba e da rubéola — subiu de 80,7% para 85,6%, de 2022 para 2023. Nesse mesmo período, a taxa da segunda dose dessa vacina aumentou de 57,6% para 61,6%, apenas. Ou seja, a situação melhorou, mas ainda deixa perigosamente a desejar.

Sarampo não é doença apenas de criança

O público infantil é realmente mais vulnerável. Na Europa, em 2023, dois em cada cinco casos foram em meninos e meninas entre 1 e 4 anos de idade.

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No entanto, um em cada cinco registros era da infecção em gente com mais de 20 anos. Boa parte dos doentes, de todas as faixas etárias, precisou ser internada. No total, foram quase 21 mil hospitalizações.

E sarampo não é só pintinha vermelha

O Morbillivirus inflama os vasos capilares, daí as manchas na pele. E sempre provoca febre alta pra valer, sem contar conjuntivite, tosse, coriza, diarreia, vômito... Mas faz muito mais.

"Um dos maiores medos é esse vírus causar uma pneumonia grave", diz Mônica Levi. "Ou abrir o caminho para bactérias oportunistas infectarem os pulmões. Ele também está por trás de encefalites, levando a complicações neurológicas."

Muito adulto precisa tomar a vacina e não sabe

O imunizante é feito com o vírus do sarampo atenuado. Daí que, antes de a criança completar 1 ano, os anticorpos da mãe, ainda presentes em seu organismo, inativam a vacina.

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"No passado, porém, como existia muito mais risco, dava-se por segurança uma dose, chamada de 'zero', aos 9 meses e outra, aos 15 meses", conta a doutora Mônica. "Mas notou-se que eram necessárias duas doses depois do primeiro ano de vida."

Por isso, a partir de 2016, a conduta passou a ser a seguinte: a criança toma a primeira dose aos 12 meses e a segunda, aos 15. "Apesar de ser algo relativamente recente, alguns adultos têm as duas doses porque houve, há alguns anos, uma campanha para se imunizarem contra a rubéola — e a vacina dupla viral também oferecia defesa contra o sarampo", lembra a pediatra. Será que seria o seu caso?

Na opinião da médica, na dúvida se você já teve sarampo ou se recebeu duas doses de vacina contra essa infecção — porque perdeu a carteirinha da infância, seus pais não se recordam direito ou, infelizmente, já não podem responder — vá ao posto. O SUS oferece esse imunizante para quem tem até 59 anos. "E se, sem saber, você teve sarampo quando era pequeno ou se vacinou com duas doses antes, a dose extra não causará qualquer problema", tranquiliza a presidente da SBIm.

A vacina tampouco faz mal para idosos. Ela só não é aplicada de rotina no SUS em quem tem mais de 60 anos porque a maioria das pessoas nessa faixa etária teve sarampo na infância. "Tanto não faz mal que, quando ocorrem surtos, a estratégia de saúde pública é vacinar todo mundo em um raio de 3 quilômetros de onde os casos de sarampo apareceram. E, aí, os mais velhos que vivem nessa área podem e devem ser vacinados", diz a doutora Mônica.

As possíveis reações

"A vacina do sarampo é a mesma desde a década de 1960 e é extremamente segura", garante a pediatra. "Mas as reações à primeira dose têm até apelido entre os médicos: 'sarampinho'."

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É como se ela provocasse uma versão muito branda da doença. "De cinco a 12 dias depois, a pessoa pode ter febre e apresentar algumas manchas vermelhas pelo corpo", descreve Mônica Levi. Já na segunda dose, isso raramente acontece.

A reação ocorre porque o imunizante, lembre-se, é feito a partir do vírus atenuado. Aliás, por isso mesmo, a vacina é contraindicada para imunossuprimidos e para gestantes.

Antes de viajar

"O ideal, se a viagem é programada, seria passar no médico um mês, um mês e meio antes, para checar se todas as vacinas — e não apenas a do sarampo — estão atualizadas e se existe algum imunizante específico recomendado conforme o lugar que será visitado", orienta a médica.

Pensando no sarampo, se você pretende fazer as malas, saiba que são duas doses da vacina para quem tem até 29 anos e não foi vacinado na idade certa e uma única dose para aqueles acima dos 30.

Não se esqueça que, depois de vacinado, o organismo leva quinze dias para alcançar um bom nível de proteção. Portanto, o melhor seria você procurar um posto pelo menos duas semanas antes do embarque. "Mas é possível se vacinar até em cima da hora, na data do voo", informa Mônica Levi. Isso ainda é bem melhor do que sair pelo mundo sem qualquer defesa.

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