Lúcia Helena

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Reportagem

O que os homens costumam ignorar quando falham no sexo

Um pouquinho mais da metade dos homens brasileiros, ou 52%, contam com a maior franqueza que já falharam bem na hora "H". Já 5% dizem que não sabem direito se isso lhes aconteceu — opa, como não sabem?! — ou não se lembram muito bem. Vamos deixar quietos outros 3% que exercem o direito de não falar sobre o assunto.

Feitas as contas, só quatro em cada dez respondentes de uma pesquisa recém-divulgada sobre sexualidade e saúde masculina, realizada pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) com o apoio do Laboratório Adium, seguramente nunca passaram por esse tipo de situação.

Foram 1.500 homens acima de 40 anos, de todas as regiões do país, que participaram via aplicativo do Instituto de Pesquisa IDEIA. A maioria deles, se quer saber, era casado de papel passado (59%) ou morava junto com namorada ou namorado (8%).

Pelo menos até os 54 anos, boa parte — seis em cada dez participantes — demonstrou ter muita preocupação com a vida sexual. A partir dos 60, porém, a gente vê crescer o número de homens definindo essa preocupação como "média", porque o sexo, apesar do bem-bom, teria deixado de ser a coisa mais importante.

De 30% dos homens na faixa dos 40 de idade a cerca de 20% dos sexagenários garantem que fazem sexo três vezes por semana — wow! — e mais ou menos uns 25% de todas as faixas etárias teriam relações duas vezes semanais. Mas, não importa a frequência, alguns já falharam.

Sim, o ânimo às vezes murcha depois de um dia de nervosismo, se outras preocupações estão em mente ou se a ansiedade vive a mil. "O homem precisa estar bem para ter uma boa visão de quem está na parceria, ter muita sensibilidade ao toque, estar com ouvidos abertos. Os sentidos aguçados alimentam áreas do cérebro que aceleram os batimentos do coração e enviam a ordem para o pênis abrir suas comportas para o sangue entrar", descreve o urologista Fernando Facio Junior, que é coordenador do Departamento de Andrologia, Reprodução e Sexualidade da SBU, além de presidente da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual e professor da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto), no interior paulista.

O alerta só acende quando a frequência dos episódios de frustração aumenta. O urologista admite que a pesquisa não levanta quantas vezes isso aconteceu com quem respondeu que já tinha falhado. Ele, no entanto, está bem impressionado: "Nunca vi os brasileiros serem tão sinceros. Ora, vivemos em um país onde esse tipo de problema não é tão declarado", comenta. "Mas, hoje em dia, todos falam mais abertamente sobre sua vida sexual. E isso ajuda, inclusive, a encurtar o tempo para pedir ajuda."

O que muita gente ignora

Há uma década, os homens demoravam dois ou três anos reparando que as falhas na hora da transa se tornavam comuns e, só daí, marcavam um médico para investigar a tal disfunção erétil. Perdiam um tempão atribuindo ao dia a dia estressante os tombos que seu "amigo" levava. "Agora, eles vêm muito mais rapidamente ao consultório, inclusive em serviços públicos", observa o professor.

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Ah, sim, parênteses: a pesquisa da SBU comparou homens que têm plano de saúde e que frequentam médicos particulares com aqueles que são usuários do SUS (Sistema Único de Saúde). Os números não são muito diferentes entre eles.

Voltando às queixas de disfunção erétil, quando recebe um paciente, o professor Facio costuma brincar: "Sou urologista. Não sou psiquiatra, nem psicólogo, nem terapeuta sexual", justificando a série de perguntas e, ainda, a pilha de exames que sempre solicita para afastar qualquer causa física. "Os homens precisam encarar que a falha na hora do sexo pode espelhar uma doença orgânica. E é isso o que devemos descartar em primeiro lugar, antes de sair culpando a ansiedade, as pressões do trabalho, a crise no relacionamento, a depressão", pensa.

É claro que, como ele mesmo chama a atenção, tudo tende a se misturar. "Se um sujeito não sofria de ansiedade, depois de falhar no sexo uma ou algumas vezes, ele certamente passará a ficar ansioso na hora da relação", exemplifica.

Para complicar, muita coisa pode empurrar o prazer ladeira abaixo. Para alguns, até o uso de certos remédios para controlar doenças cardiovasculares, como diuréticos e betabloqueadores para melhorar o bombeamento do coração. Ninguém está dizendo que é para abandoná-los, olhe lá! Mas é caso de os especialistas estudarem ajustes na medicação.

Além disso, há doenças que costumam atrapalhar um bocado — e, sobre elas, os homens da pesquisa não foram tão sinceros assim. Ou preferiram ignorá-las mesmo.

Os elos com a obesidade

Somente 12% dos participantes disseram que tinham obesidade. Na verdade, se a gente olhar para a população brasileira, de acordo com o Ministério da Saúde perto de 23% dos homens têm essa doença crônica.

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Será que nem todos reconhecem que estão acima do peso?, questiono. "Alguns preferem não encarar para continuar tomando cerveja ou aproveitando o churrasco. Enfim, associam o tratamento da obesidade com privação. E fogem da realidade", opina o professor Facio.

Ele explica que a obesidade pode agir contra a ereção em algumas frentes. "Precisamos dosar os níveis de testosterona desses homens, para início de conversa. O excesso de gordura corporal pode levar a uma condição de baixa do hormônio masculino", informa.

Mais comum que isso, porém, é a obesidade estar associada com níveis elevados de colesterol e hipertensão — dois fatores importantes nessa história e nos quais homens às voltas com dificuldades de ereção deveriam ficar de olho.

O que faz mal ao coração atrapalha o pênis

O colesterol nas alturas forma placas nas artérias, como é sabido. Só que, provavelmente antes de ameaçarem o peito, elas se tornam um obstáculo considerável para a passagem do sangue pelos vasos penianos. É que eles são muito finos. Qualquer mínimo depósito de gordura, ali, já pode acarretar um aporte de sangue inadequado.

"O esperado é encontrar uma dosagem de colesterol elevada naquele paciente que reclama por ficar a 'meio mastro', sem o pênis permanecer tão duro", conta o doutor. Ora, o que endurece o pênis é sangue, lá dentro dele, em maior volume na excitação. Mas se a circulação não flui como antes...

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A hipertensão, por razão parecida, também é capaz de atazanar um pênis querendo ser feliz. Ora, na pressão alta, os vasos se mantêm contraídos e isso é exatamente o oposto do que acontece em uma boa ereção, quando relaxam para o sangue entrar no parque de diversões dos rapazes.

Na pesquisa, diga-se, um em cada quatro respondentes era hipertenso. E podemos imaginar que a proporção seja até maior: doença silenciosa, a hipertensão costuma ser solenemente ignorada, para desespero do coração e do... Já sabe!

Diabetes, outro desmancha-prazer

Na pesquisa, 8% dos homens responderam que tinham essa doença e o que ela faz é mais conhecido. Não à toa, desenvolver disfunção erétil sempre foi um dos pesadelos dos homens diagnosticados com diabetes — que, sim, é ainda uma das maiores causas de doenças cardiovasculares. Mas, aqui, vale uma explicação extra.

"A glicose, quando está muito alta, lesiona o endotélio, que é o revestimento interno dos vasos", ensina o professor Facio. "Ele, então, deixa de produzir a contento uma substância chamada óxido nitroso, fundamental para o seu relaxamento e, consequentemente, para a entrada do sangue no pênis. Por isso, se um homem está com dificuldade de ereção, ele precisa checar a quantas anda a sua glicemia."

Para levantar peso e algo mais

O urologista jura que não exagera quando diz o seguinte: "Se houvesse uma única opção, entre tornar a dieta mais equilibrada para evitar ou tratar a disfunção erétil ou fazer exercício físico rotineiramente, eu não hesitaria e recomendaria a segunda. Ser fisicamente ativo é o que traria um melhor resultado".

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Na prática, o certo é fazer as duas coisas para preservar a qualidade da vida sexual masculina. Mas, na pesquisa da SBU, 26% dos homens confessaram que eram completamente sedentários. Curioso: os mais velhos, acima de 60 anos, praticam mais exercício. Entre eles, só 18% estão no grupo do sedentarismo.

E, de novo, a questão do tamanho

Pois é, 15% dos brasileiros — apesar de a maioria afirmar que estava contente com suas medidas mais íntimas — gostariam de alongar o pênis. Outros 4% desejariam engrossá-lo. E 12%, nunca satisfeitos, sonham com as duas coisas, alongar e engrossar.

Essa ideia fixa também pode perturbar entre os lençóis — baixando a autoestima e o pênis junto. Aumentar a espessura, diz o professor Facio, é até possível com injeções de ácido hialurônico no órgão, a mesma substância usada para realçar os lábios e as bochechas em tratamentos estéticos faciais.

Já sobre o tamanho, é bom cada um se contentar com o seu. "É impossível alongar um pênis", avisa o urologista. "O fator limitante é a uretra, o canal por onde escoa a urina e o esperma." Simples: se algo fosse feito para aumentar o comprimento do órgão, ela não esticaria junto.

Há uma cirurgia que faz um pequeno corte no saco escrotal, quando ele está preso na primeira porção da base do pênis. O saco fica, então, mais solto. E a parte inferior do pênis, mais à mostra. O tamanho, de fato, continuará igualzinho ao original, ou melhor, àquele atingido por volta dos 18 anos. O procedimento só serviria de ilusão ótica para levantar... o ânimo.

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