Lúcia Helena

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Reportagem

Quanto tempo você fica em um pé só? A resposta diz se está envelhecendo bem

Se você teve curiosidade e ergueu uma das pernas, fique sabendo: jovens saudáveis conseguem ficar em um pé só por 30 segundos ou mais. Problemas no sistema nervoso e até o uso de substâncias que agem lá no cérebro — quem já bebeu uns goles a mais sabe disso — é que ameaçariam derrubar o cidadão antes desse tempo, desestabilizando a postura.

No entanto, quem já passou dos 50 provavelmente não conseguirá ficar assim por tanto tempo. Acima dos 65 anos, então, a sensação de cai-não-cai surge mais depressa ainda!

Tudo bem que envelhecer não é, nem nunca foi doença. Mas é esperado o declínio de diversas funções. A capacidade de executar movimentos é uma delas. E, no caso, a derrocada se torna acentuada quando a pessoa começa a acumular problemas, como a sarcopenia, que é uma redução importante da massa muscular.

Com a "perda de carne" — é essa a origem grega da palavra sarcopenia —, a força dos músculos deixa de ser adequada, fica difícil andar com certa rapidez e o equilíbrio falha a todo instante.

No Brasil, diga-se, o Ministério da Saúde revela que, anualmente, um em cada quatro indivíduos com mais de 65 anos sofre quedas nas ruas. Quando não quebra um osso — o que, às vezes, exige uma cirurgia, com todos os seus riscos —, o tombo gera impacto psicológico, como o medo de cair de novo, contribuindo para que a pessoa se movimente cada vez menos ou para que viva mais isolada socialmente, sem dar suas voltinhas por aí.

Longe do nosso país, no Laboratório de Análise do Movimento, na Mayo Clinic, Estados Unidos, onde realiza pesquisas há quase três décadas, o médico Kenton Kaufman se perguntou o que poderia indicar mais depressa se uma pessoa estaria envelhecendo bem: a força, a marcha eficiente ou o equilíbrio? Essas três funções ou habilidades, por assim dizer, são essenciais para um idoso não cair ao menor tropeço e, mais ainda, para manter a autonomia no dia a dia. E o que o pesquisador americano viu foi o seguinte: ficar em um pé só é o jeito mais eficiente e fácil de obter essa resposta.

Como se chegou a essa conclusão

Os cientistas da Mayo Clinic recrutaram 40 indivíduos muito saudáveis. "Metade estava na faixa dos 50 anos e metade tinha 65 anos ou mais", conta o doutor Kaufman, que é líder desse estudo. "No nosso laboratório, todos tiveram de realizar uma série de tarefas."

A força dos membros superiores e a dos joelhos foram colocadas à prova. Também foi feito um teste em que os sujeitos tinham de dar alguns passos para frente e outros para trás. Mas, no caso, um sistema óptico ficava capturando minúcias do movimento durante a caminhada. "O fato é que, tanto na força quanto na marcha, não houve diferenças significativas entre os dois grupos, o de 50 e poucos anos e os mais velhos", nota o doutor Kaufman.

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Quando, porém, ele e seus colegas pediram para cada participante ficar em um pé só, a coisa foi diferente. Em média, os cinquentões saudáveis permaneceram por 23 segundos — aliás, está aí uma referência para a gente ter na cabeça. Já os que já tinham passado dos 65 anos conseguiram ficar assim por cerca de 17 segundos apenas, apesar de também esbanjarem saúde. "Essa diferença mostra que, de todos os parâmetros que estudamos, esse é o mais sensível à idade. Portanto, é o que revela mais depressa como está o envelhecimento."

Quando ficar atento

"Se você está nessa faixa de idade e o período que consegue ficar em um pé só é bem menor que esse entre 17 e e 23 segundos, há motivo para conversar com um médico", recomenda o doutor Kaufman. O declínio precoce ou mesmo acentuado — quando a sustentação da postura fica muito menor de um ano para o outro, por exemplo — pode esconder questões neurológicas e até doenças cardíacas. Ou, às vezes, indica problemas em órgãos dos sentidos, como os olhos, já que a visão também é exigida em tarefas que pedem equilíbrio.

Perigo pra valer existe quando a pessoa consegue se segurar em um pé só por 5 segundos ou menos. "Todos devem ficar de olho e mais cuidadosos com alguém assim, porque é um sinal de que esse idoso tem um altíssimo risco de queda", afirma.

Para fazer em casa

Esse é o detalhe que o doutor Kaufman gosta de ressaltar: "O teste de ficar em um pé só pode ser feito por qualquer um e em qualquer canto, porque não há necessidade de equipamento". Além disso, diferentemente do teste de força de preensão, cujos valores de referência são diferentes para homens e mulheres, os parâmetros são iguais para todos, o que também facilita.

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Agora, se você quiser ficar em um pé só e cronometrar o seu tempo, só um aviso do pesquisador: é importante repetir o teste com a outra perna. "Você sempre terá maior facilidade com uma delas, que seria a dominante", explica.

A questão curiosa que o próprio pesquisador me apresenta é que o conceito de perna dominante não é tão claro: "Alguns dizem que é aquela com a qual você chuta a bola. Outros acham que é a perna que fica em pé, sustentando o corpo, para a outra chutar", diz ele. Não importa: só não estranhe, então, uma pequena diferença de tempo entre os dois lados. Ela pode ser normal em qualquer idade.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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